São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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Centrais pedem proteção para autopeças

SÉRGIO LÍRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 13.500 metalúrgicos do setor de autopeças, segundo os sindicatos (ou 3.000, segundo a Polícia Militar), participaram ontem de uma manifestação em frente ao prédio do Ministério da Fazenda em São Paulo.
Organizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) e Força Sindical, o ato pediu proteção às empresas brasileiras de autopeças, para preservar os empregos no setor.
Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, o regime automotivo adotado pelo governo federal acelerou o ritmo de demissões na indústria de autopeças.
No ano passado, o governo reduziu as alíquotas de importação de peças, máquinas e componentes de 14%, em média, para 2%.
A abertura econômica, de acordo com Paulinho, teria piorado a situação de um setor que já vinha fazendo demissões desde o início da década.
Em 90, as empresas de autopeças empregavam 350 mil pessoas. Hoje, empregam 210 mil, de acordo com dados dos metalúrgicos.
"Se nada for feito, teremos apenas 110 mil empregos no ano 2.000", disse Paulinho.
Amanhã, os metalúrgicos se reúnem em Brasília com o ministro Francisco Dornelles (Indústria, Comércio e Turismo).
Entre as propostas que irão apresentar na reunião, está a nacionalização de 70% das peças utilizadas na fabricação de veículos.
Os metalúrgicos vão propor também a nacionalização de 60% das compras de máquinas e equipamentos, abertura de crédito especial para empresas do setor e redução das taxas de juros.
Caso o governo se recuse a negociar mudanças no regime automotivo, as centrais sindicais pretendem partir para uma ação mais drástica.
A idéia dos sindicalistas é fechar os portos brasileiros para impedir a entrada de importados.
"Se o governo não tomar providências, vamos impedir a entrada de produtos importados no país", disse o presidente da Força Sindical, Luiz Antonio de Medeiros.
A Folha apurou que as centrais pensam em parar os portos ainda neste mês, caso as negociações com o governo não avancem.
Apesar de a manifestação de ontem defender uma proteção às indústrias do setor, nenhuma entidade empresarial participou do ato público.
O vice-presidente do Sindpeças -que representa 95% das empresas de autopeças-, Vlademir Sperandeo, afirmou que os empresários apoiavam a manifestação, mas que não viam sentido em participar.
"É um ato justo, mas diz respeito aos trabalhadores", afirmou Sperandeo.
O presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, discorda da posição do Sindpeças. Segundo Vicentinho, falta coragem aos empresários para enfrentar o governo.
"Cegos" e "surdos"
Durante a manifestação em frente ao Ministério da Fazenda, os metalúrgicos estenderam uma bandeira do Brasil de 240 m2 e cantaram o Hino Nacional.
Vicentinho, que chegou atraso ao evento, disse em seu discurso que "só os surdos não ouvem o clamor do povo".
A frase foi uma resposta ao presidente Fernando Henrique Cardoso, que teria dito durante um evento, realizado no Palácio do Planalto em setembro, que "só cegos não percebem que o país está melhor".

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