São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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Russo iria compor ópera sobre paixão gay

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

O compositor Renato Russo tinha planos de transformar o livro "Bom Crioulo" em ópera.
Publicado há cem anos, o romance do cearense Adolfo Caminha (1867-1897) narra um caso de amor entre dois marinheiros, que termina tragicamente.
O jornal "Le Monde" trouxe um artigo sobre "Bom Crioulo" no início de 1996, quando a tradução do livro saiu em Paris. A crítica francesa apontou Caminha como "o primeiro autor de uma autêntica narrativa homossexual".
Em seu "História Concisa da Literatura Brasileira", o professor Alfredo Bosi ressalta a crença do escritor "na fatalidade do meio" e "o gosto por temas escabrosos".
Adiante, resume assim o enredo de "Bom Crioulo": um "caso de corrupção" que o desenrolar da trama "mostra como inevitável".
Russo começou a falar da ópera em 1995, enquanto terminava o CD "Equilíbrio Distante", com canções italianas.
Desde 1994, participava de organizações gays. Há seis anos, se declarou homossexual.
Pretendia compor a ópera simultaneamente à realização de "A Tempestade", último disco do Legião Urbana. "Desistiu porque estava se sentindo cansado", conta o tecladista Carlos Trilha, 26, que ganhou de Russo um exemplar de "Bom Crioulo".
Os dois iriam se dedicar juntos à empreitada erudita. "Fui à casa de Renato algumas vezes. Ouvíamos muita música clássica para servir de referência."
O tecladista diz que, recentemente, o vocalista assinou contrato com a EMI para lançar mais três discos solos.
Ninguém dispõe de dados precisos sobre os álbuns. Mas há pistas. Quem as dá é o assistente de estúdio Reginaldo Ferreira, 29, amigo de Russo: "Ele planejava um CD só com músicas de artistas mineiros, como Lô Borges".
Também queria gravar um disco para homenagear o compositor inglês Nick Drake, que morreu em 1974 por overdose de antidepressivos.

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