São Paulo, terça-feira, 15 de outubro de 1996
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Moderado, Farrakhan faz ato pela paz

CLÁUDIA TREVISAN
DE NOVA YORK

O líder negro Louis Farrakhan convocou para amanhã em Nova York uma manifestação que marcará o aniversário de um ano da Marcha de 1 Milhão de Homens, realizada em Washington.
O ato, chamado de Dia Mundial de Reparação, Reconciliação e Responsabilidade, será realizado na praça da ONU (Organização das Nações Unidas) e terá como tema a paz mundial.
Farrakhan, líder do grupo Nação do Islã, quer que seus seguidores façam amanhã uma espécie de "greve" e deixem de exercer suas atividades usuais.
Segundo ele, o dia também será uma preparação para as eleições, que ocorrem em três semanas, e servirá para mostrar o descontentamento da comunidade negra.
"Vamos deixar a América e seus partidos políticos saberem que nós não estamos satisfeitos com a sua direção", escreveu Farrakhan no texto de convocação para o ato.
Entre os oradores de amanhã está Winnie Mandela, ex-mulher do presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
O ato será transmitido via satélite para países do Caribe, África, Ásia e Europa. Os organizadores disseram não saber precisar o número de pessoas que devem comparecer ao ato, mas avaliaram que pelo menos 100 mil manifestantes devem estar presentes.
O tema, a paz mundial, contrasta com o discurso inflamado do Nação do Islã, um grupo que congrega negros convertido ao islamismo e prega o separatismo.
Também parece pouco adequado depois da visita que Farrakhan fez a 18 países no começo do ano, entre eles Líbia e Iraque -acusados pelos Estados Unidos de incentivar o terrorismo.
Na Líbia, o líder do Nação do Islã foi homenageado pelo presidente Muammar Gaddafi, que lhe ofereceu US$ 1 bilhão para financiar projetos de apoio à comunidade negra. O governo norte-americano não deu autorização para entrada dos recursos nos EUA.
Farrakhan tem dado outras declarações aparentemente contraditórias com suas posições.
Frequentemente chamado de anti-semita, ele afirmou que gostaria de se encontrar com líderes da comunidade judaica. "Nós precisamos sentar e conversar como seres humanos civilizados e inteligentes", afirmou em entrevista à revista "Newsweek".
Drogas
Ontem, Farrakhan chamou a atenção da imprensa norte-americana ao afirmar que estuda a possibilidade de processar o governo dos EUA se ficar comprovada a suspeita de que a CIA esteve envolvida na distribuição de drogas dentro do país com o objetivo de financiar o movimento anti-sandinista na Nicarágua nos anos 80.
A acusação já levou a CIA a abrir investigação interna. A ação seria apresentada em nome das famílias de viciados, sobretudo em crack, e de vítimas da violência praticada por viciados, segundo Farrakhan.

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