São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Depoimento de padre acaba em confusão

RICARDO AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O depoimento do padre Leonard Martin, 46, na comissão especial da Câmara que analisa o projeto de união civil entre pessoas do mesmo sexo acabou em acusações quanto à preferência sexual de deputados.
O deputado Severino Cavalcanti (PPB-PE) disse que não colocava a "mão no fogo por ninguém na comissão", fora ele e seus colegas Salvador Zimbaldi (PSDB-SP) e Philemon Rodrigues (PTB-MG).
Quem reagiu foi Lindberg Farias, do PC do B (leia frases ao lado).
Durante a discussão, Zimbaldi assumiu a presidência da comissão, antes ocupada por Farias. O bate-boca passou então a acontecer por causa do direito à palavra não concedido a Farias.
À saída da reunião, os parlamentares voltaram a se ofender. "Você é um tonto", acusou Zimbaldi. "Você não respeita o regimento", devolveu Farias, já no corredor.
Idade mínima
O tema central da reunião, o depoimento de Martin, acabou ficando em segundo plano. Em seu discurso, o religioso apresentou argumentos favoráveis e contrários ao projeto.
Ele sugeriu emendas para serem incluídas em caso de aprovação da proposta. A principal delas indicaria a idade mínima de 25 anos para que os interessados possam celebrar o contrato de união civil.
Segundo ele, a homossexualidade pode ser uma "tendência transitória ou "condição definitiva".
A idade mínima, de acordo com seus argumentos, visa proteger os jovens que se incluem no primeiro caso, além de evitar que o reconhecimento da nacionalidade dos parceiros, previsto no projeto, possa ser usado no tráfico internacional de menores e exploração sexual.
Martin procurou mostrar como a igreja está dividida com relação ao tema. De um lado estaria o "rigor doutrinário" e do outro a "solicitude pastoral".
Pelo rigor da doutrina, a homossexualidade estaria condenada. Mas "a solicitude se manifesta na escuta às ciências humanas, na condenação de discriminação e violência contra as pessoas homossexuais", explicou Martin.
Ao fim da palestra, o religioso expôs o motivo que levou a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) a rejeitar o projeto de união civil: "a grave ameaça à estrutura familiar".

Texto Anterior: Conversa mole; Incógnita; Contramão
Próximo Texto: FRASES
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.