São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Carybé mostra candomblé aos franceses

BETINA BERNARDES
DE PARIS

O artista plástico brasileiro Carybé expõe a partir de hoje, pela primeira vez em Paris, aquarelas de sua obra documentando o candomblé na Bahia. Até o dia 15 de novembro, a galeria Debret estará mostrando 49 das 110 aquarelas do pintor sobre o tema.
Carybé começou a retratar o candomblé na década de 50, ao perceber que o ritual oferecia um rico material visual que não era explorado.
"Como não deixavam fotografar, achei que, pouco a pouco, ia se perder essa imagem do candomblé, não havia documentação", afirma.
"Comecei a frequentar os rituais e, até hoje, faço os documentários em aquarela quando vejo alguma coisa nova", conta o pintor.
Obá
As idas aos rituais acabaram tornando Carybé um dos 12 obás de Xangô, um posto civil do candomblé também conferido a personalidades como o escritor Jorge Amado e o cantor e compositor Dorival Caymmi.
Apesar de ainda se dedicar às aquarelas, o artista diz que prefere trabalhar em murais.
"Fazer quadro em cavalete é um pouco fresco demais, essa história de dar uma pincelada e dar um passo para trás para ver como fica", conta.
"Prefiro o mural, que tem andaimes, operários à sua volta que dão opinião. Gosto de ouvir o que eles pensam, são muito sinceros", diz o pintor.
Aos 85 anos, Carybé está trabalhando em uma grade de ferro de 4 m x 20 m, para o Museu de Arte Moderna de Salvador.
Saudade
Concluída a grade, o próximo passo é fazer um painel de concreto de 3 m x 20 m.
"Estou morrendo de saudade de trabalhar, estou louco para voltar logo para a Bahia e voltar à atividade", conta.
Carybé, de origem cigana, é baiano de coração. Está viajando pela Europa há cerca de 15 dias.
Foi a Madri, na Espanha, onde a Casa da Galícia também está promovendo uma exposição sobre seus quadros pintados a óleo e acrílico.
A exposição de Paris, denominada "Iconografia dos Deuses Africanos no Candomblé da Bahia", deverá seguir depois para a Bélgica.
As aquarelas mostram utensílios usados nos rituais do candomblé, roupas das mães-de-santo, danças e celebrações.
"Carybé não se contentou com pesquisas, ele viveu o candomblé em todos seus detalhes", diz o escritor Jorge Amado no convite da exposição. O trecho foi extraído do livro que leva o mesmo nome da mostra.

Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch
Próximo Texto: Estréia hoje filme de Spike Lee sobre marcha de 1 milhão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.