São Paulo, quarta-feira, 16 de outubro de 1996
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Itália decide julgar Priebke de novo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Justiça italiana ordenou ontem que o ex-capitão nazista Erich Priebke seja julgado novamente. Priebke é considerado o responsável pelo Massacre das Fossas Ardeatinas, em 1944, em que morreram 335 pessoas.
A Corte de Cassação anulou um julgamento do dia 1º de agosto, que, mesmo o tendo condenado, determinou que ele fosse mantido em liberdade por causa de circunstâncias atenuantes.
O pedido de anulação foi feito pela promotoria e por advogados das famílias das vítimas. Eles alegavam que o juiz do tribunal militar que conduziu o primeiro julgamento estava influenciado a favor de Priebke. Agora, deve haver novo julgamento, com outros juízes.
Parentes de vítimas do massacre comemoraram. "É um dia maravilhoso, mas ninguém consegue imaginar que vamos voltar a viver o que passamos naqueles meses (do julgamento)", disse Rosetta Stame, filha de um cantor de ópera morto no massacre.
Apesar da sentença, o alemão Priebke, 83, continua preso, porque a Justiça italiana ainda examina um pedido de extradição para a Alemanha.
O advogado do ex-capitão, Velio di Rezzo, disse que a decisão da corte é "absolutamente injusta". Di Rezzo visita Priebke hoje na prisão para discutir a nova estratégia de atuação.
Após a Segunda Guerra Mundial, Priebke viveu durante quase 50 anos na Argentina. Foi preso em Bariloche e extraditado para a Itália em novembro do ano passado.
Para ir efetivamente para a cadeia, Priebke precisava ter sido condenado por homicídio doloso (em que há intenção). Homicídios culposos (sem intenção) prescrevem em 30 anos, segundo a legislação italiana -foi esse o veredicto italiano.
A ação para anular o julgamento surgiu após uma denúncia de que o juiz Agostino Quistelli teria dito, durante o julgamento, que Priebke não deveria ir para a cadeia. Quistelli comandava outros dois juízes.
Um tribunal de instância inferior já havia rejeitado o pedido de anulação. "É uma decisão (a de ontem) que fala por si", disse o promotor do caso, Antonio Intelisano, que já anunciou que quer continuar à frente da acusação.
"É a redenção do sistema judicial italiano", afirmou Shimon Samuels, diretor de assuntos internacionais do Centro Simon Wiesenthal, que se dedica à caça de criminosos de guerra nazistas.
Intelisano disse que tentaria novamente obter o testemunho do ex-major nazista Karl Hass, 84.
Hass é mantido sob custódia em uma clínica nos arredores de Roma desde junho, quando fraturou a pélvis. Na tentativa de não comparecer ao tribunal, ele se atirou do mezanino de um hotel em que era mantido às vésperas de seu depoimento.
Não há data para o novo julgamento, mas Intelisano quer que ele aconteça dentro de três ou quatro meses. Sua maior preocupação é a idade de Priebke e Hass.

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