São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 1996
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Schnabel enfrenta Basquiat

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Basquiat" está a anos-luz das cinebiografias americanas típicas.
A diferença básica é não romantizar seu personagem central. Tampouco o menospreza. Trata o artista Jean-Michel Basquiat (1960-1988) como um homem comum. Impossível achado mais prosaico.
O filme de abertura da mostra deste ano acerta ao assumir o ar despojado de crônica de uma época. O cenário é a Nova York dos anos 80. Os protagonistas são a variadíssima fauna que girava em torno do ascendente mercado de arte, tendo Andy Warhol como patrono. Julian Schnabel, o pintor que faz aqui sua estréia na direção, era um deles. "Basquiat" é assim tanto uma homenagem quanto um testemunho.
Autor e personagem foram contemporâneos no teste da fogueiras das vaidades da Manhattan da era yuppie. É simplesmente delicioso o retrato da nada sutil teia de relações e interesses de então.
Basquiat soube jogar o jogo. De origem haitiana, começou a carreira grafitando tudo que encontrava pela frente. Assinava-se SAMO, sigla inglesa para "Same Old Shit" (A Mesma Merda de Sempre).
Sua ascensão, como todas, combinou estratégia e acaso. O impulso foi seu talento aglutinador, que fundou um estilo entre o primitivismo e o expressionismo abstrato, como é possível constatar na presente Bienal de São Paulo. Os degraus foram um crítico aqui, um pintor renomado ali, o marchand da hora acolá.
Schnabel está mais próximo do Pialat de "Van Gogh" (1991) que do Minnelli de "Sede de Viver" (1956). Uma narrativa serena e generosa resume a vida curta e a era veloz de Jean-Michel Basquiat. Ajudado pelos desempenhos de Jeffrey Wright como Basquiat e David Bowie como Warhol, "Basquiat" resulta um filme sutilmente maiúsculo.
(AL)

Filme: Basquiat
Produção: EUA, 1996, 106 min.
Direção: Julian Schnabel

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