São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Infrator do interior do Rio aprende crimes na capital

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A internação em um mesmo ambiente de menores infratores do Rio e de outras cidades resultou no aumento da delinquência juvenil no interior do Estado.
Nas regiões litorânea (Cabo Frio, Arraial do Cabo e Búzios), serrana (Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis) e sul (Barra Mansa e Volta Redonda), cresce o número de adolescentes marginais, disse à Folha o juiz Geraldo Prado.
Titular da 2ª Vara da Juventude e da Infância do Rio, Prado, 36, credita o aumento da violência no interior ao convívio entre adolescentes "inseridos na marginalidade há muito tempo" com outros provenientes de áreas rurais.
O governo do Estado concentra na Ilha do Governador (zona norte do Rio) a internação de menores de 18 anos punidos com cerceamento de liberdade pelo juizado. O menor é trazido para o Rio mesmo morando em outras cidades.
No caso dos adolescentes do sexo masculino, são usados dois internatos: o Instituto Padre Severino (internação provisória, por até 45 dias) e a Escola João Luiz Alves (internação por até três anos).
Os internos da capital costumam apresentar envolvimento antigo com a criminalidade (tráfico de drogas, homicídios e roubos violentos, principalmente).
O adolescente interiorano tem com a criminalidade um grau de comprometimento menor, se comparado ao jovem da mesma faixa etária morador do Grande Rio.
"A reunião de meninos com características diferentes é absolutamente negativa", afirmou Prado.
Segundo o juiz, após conviver com o menor da capital, o interiorano retorna à comunidade de origem "mais voltado para o crime".
"Cidades onde não ocorriam atos mais graves praticados por menores começam a ter registro de roubos, homicídios, tráfico de drogas", disse Prado.
O tráfico de cocaína e maconha por adolescentes que estiveram internados no Rio se intensifica nos municípios litorâneos, serranos e no sul do Estado.
"O tráfico tem poder de sedução sobre o jovem. O menino volta para o interior como uma espécie de braço do tráfico de entorpecentes", disse o juiz.
Loretti disse à Folha que em 1997 serão inaugurados CAIs (Centros de Atendimento Integral) nos municípios de Campos (norte do Estado), Barra Mansa (sul), Niterói (a 15 km do Rio) e Duque de Caxias (na Baixada Fluminense).
"Pretendemos descentralizar a assistência dada aos adolescentes infratores. Os CAIs serão internatos. A meta é acabar com as instituições da Ilha do Governador", afirmou o secretário da Justiça.
Apesar do otimismo do secretário, ainda não começou a construção dos CAIs nas quatro cidades. "Dependemos das Câmaras, que têm que aprovar a cessão dos terrenos pelas prefeituras, parceiras no projeto", disse Loretti.

Texto Anterior: Internato está superlotado
Próximo Texto: Instituições estão sem verba
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.