São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
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Chega a SP o aventureiro Boulez

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O francês Pierre Boulez, 71, é considerado um dos maiores compositores ainda vivos e um dos quatro ou cinco grandes maestros de música sinfônica ainda na ativa.
Ele é com certeza o grande nome da temporada deste ano da Sociedade de Cultura Artística. Volta a São Paulo -onde esteve uma única vez, em 1954- para três apresentações, de segunda a quarta-feira, com o Ensemble Intercontemporain, conjunto de música contemporânea que fundou em 1976.
Boulez (pronuncia-se "Bulés"), entrevistado anteontem pela Folha, define-se como um "aventureiro", bem mais que como um vanguardista. Eis os principais trechos de sua entrevista.
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Folha - O sr. acredita que a palavra "vanguarda" ainda possui uma significação precisa, num mundo de inovações tão fragmentadas?
Pierre Boulez - Acredito que a significação permanece, porque continuam a haver pessoas aventureiras e outras que não o são. Em lugar de vanguarda, eu chamaria isso de aventura.
Folha - O sr. se definiria então como um aventureiro?
Boulez - Obviamente que sim.
Folha - Em que pontos as suas "aventuras" foram um sucesso?
Boulez - Há esforços que não produzem resultados imediatos, como a tentativa minha e de outros de minha geração de modificar o repertório das orquestras sinfônicas. As mudanças foram bem mais lentas.
Folha - Mas a economia de mercado não está levando as orquestras a atuarem com um repertório cada vez mais "seguro", mais tradicional, mais mercadológico?
Boulez - Depende bastante das pessoas que as comandam. Se essas pessoas desejam introduzir mudanças, as mudanças acabam ocorrendo. Mas nada muda se o comando é entregue a quem não tem imaginação.
Folha - Mas e quando o orçamento de uma orquestra depende da venda de assinaturas? Tchaikowski vende bem mais que Varèse...
Boulez - É verdade, mas é preciso provocar a curiosidade dos auditórios. Pode de imediato chocar. É possível, no entanto, progredir com os hábitos de escuta. Nos Estados Unidos, são evidentes os bons resultados disso em Los Angeles e Chicago.

LEIA MAIS sobre Boulez à pág. 4-3

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