São Paulo, sexta-feira, 18 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Versão faz de Moreau um cientista maluco

PATRICIA DECIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A adaptação para o cinema do clássico "A Ilha do Dr. Moreau", escrito por H.G. Wells há cem anos, tem pouco da visão sombria que o escritor, influenciado pelo darwinismo e outras teorias científicas, imprimiu a seu livro.
A versão que estréia hoje nos cinemas é a segunda adaptação da obra de Wells. O filme, dirigido por John Frankenheimer, no entanto, reduz Moreau a um cientista maluco, mais excêntrico do que incompreendido por seu tempo, que se refugia em uma ilha deserta para continuar seus experimentos.
A caricatura é evidente, especialmente nas cenas em que Marlon Brando (Moreau) aparece ora com o rosto coberto de talco, ora usando um chapéu cujo bojo é na verdade um balde de gelo. Ou ainda quando senta ao piano acompanhado de uma criatura repulsiva.
Uma metáfora sobre a vontade do homem em se tornar Deus por meio da ciência -e de suas consequências-, "Dr. Moreau" já foi definida como "um milagre atroz", nas palavras de Jorge Luis Borges.
Mas, na versão que entra em cartaz hoje, o que se vê é apenas uma tentativa malsucedida de transformar a história num thriller de ação jogando boa parte do horror à visão dos "homens-animais" deformados criados pelo cientista.
O ator inglês David Thewlis interpreta Edward Prendick, o sobrevivente de um avião que caiu no mar -um naufrágio, no original- e é recolhido pela embarcação que transporta um novo lote de animais para a famosa ilha.
No barco, está Montgomery (Val Kilmer), único assistente 100% humano de Moreau, que é chegado a prazeres mundanos como bebida, drogas e um bom pedaço de carne assada.
Prendick fica preso na ilha, sem socorro, e lá passa pelos horrores de conviver com as criaturas que Moreau chama de filhos. Não podia faltar uma bela "mulher" (Fairuza Balk) para criar alguma tensão sexual no filme.
Kilmer (que aparece apenas de sarongue), é um dos destaques, dando a Montgomery todo o cinismo e caráter atormentado que não conseguiu imprimir a sua interpretação de Batman.
A única sequência de gosto discutível, alvo de críticas na imprensa americana, foi sua imitação de Moreau-Brando, com direito a talco no rosto e barriga postiça.
No final, o que filme e livro conservam é a grande dose de lição de moral, o que, para muitos, não pode ser considerada uma qualidade.

Filme: A Ilha do Dr. Moreau
Direção: John Frankenheimer
Com: Marlon Brando, Val Kilmer
Quando: a partir de hoje nos cines West Plaza 4, Paulista 4, Olido 1 e circuito

Texto Anterior: MTV exibe documentário sobre trajetória do rock brasileiro
Próximo Texto: Brando já tem seu 'Latininho'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.