São Paulo, sábado, 19 de outubro de 1996 |
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Trem percorre 4 km sem sinalização em SP
OTÁVIO CABRAL
O trecho fica entre as estações de Ermelino Matarazzo e São Miguel Paulista, na linha Variante Leste, que liga a estação Roosevelt (centro de São Paulo) a Calmon Viana, em Poá (leste da Grande SP). O motivo da falta de sinalização, segundo a CPTM, é que moradores do Jardim Pantanal (bairro vizinho à linha do trem) fazem "gambiarras" para puxar energia de uma estação da Eletropaulo. Essa fiação clandestina passa sob a linha do trem e pode provocar curtos-circuitos. Para evitar isso, a CPTM resolveu desligar toda a sinalização, que inclui sinais luminosos, cancelas e sinais sonoros. O problema já existe há dois anos, mas a sinalização está desligada definitivamente há quatro meses. A reportagem da Folha percorreu ontem de manhã toda a linha Variante Leste na cabine do maquinista. O ferroviário não quis se identificar com medo de punições. Velocidade reduzida Quando se passa pela estação Ermelino Matarazzo, placas indicam que a velocidade, que normalmente é de cerca de 70 km/h, não pode passar dos 20 km/h. Os passageiros, irritados com a diminuição da marcha, começam a bater na cabine e insultar o maquinista, considerado o culpado pelo atraso. Todas as vezes que o trem precisou mudar de linha ou atravessar uma cruzamento, o maquinista precisou pedir autorização pelo rádio à central de operações. Durante os quatro quilômetros, o maquinista teve que pedir três autorizações de prosseguimento. Em duas delas, o contato não foi imediato e o trem chegou a parar na linha. A viagem só prosseguia quando o operador autorizava e dava uma senha, que era anotada pelo maquinista em um gráfico. "Como os equipamentos de rádio são da década de 60, muitas vezes a comunicação entre a cabine e o controle é impossível. Nesses casos, o trem fica parado na linha até a comunicação ser restabelecida", afirmou o maquinista. Ontem, o equipamento de rádio da linha Variante Leste ficou fora de operação por meia hora, entre as 4h45 e as 5h15. Duas composições ficaram paradas entre as estações de São Miguel e Ermelino. Como o horário era de baixo movimento, não houve tumulto. Mas, segundo o maquinista, se a pane acontecesse uma hora depois, provavelmente haveria confusão. Para piorar a situação, cerca de 70% dos trens estão com os velocímetros quebrados. "Nesses trens, a velocidade é controlada no 'olhometro"', disse o maquinista. Pedestres nos trilhos A falta de sinalização não é o único problema da linha Variante Leste, considerada pela CPTM como a de pior condições entre as cinco em operação na Grande São Paulo. Obras, trilhos tortos, problemas de drenagem e até mesmo a presença de pedestres andando na linha do trem obrigam os maquinistas a reduzir a velocidade, atrasando ainda mais as viagens. O tempo previsto para o trem percorrer o trecho Roosevelt-Calmon Viana é 45 minutos. "Mas raramente é possível completar o percurso em menos de uma hora e meia", afirmou o maquinista. Com tantos problemas, não é surpresa que a Variante seja a linha com maior número de acidentes: em média, 30 pessoas morrem por ano no trecho, principalmente pingentes e surfistas ferroviários. Texto Anterior: Depoimento de Leuzzi é adiado Próximo Texto: CPTM desligou sistema para evitar curto-circuito Índice |
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