São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Erundina constrói 6 hospitais, mas não consegue adesão dos médicos

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiza Erundina priorizou a saúde em seu governo. Aumentou o investimento na área, construiu seis hospitais, três pronto-socorros e 13 postos de saúde, um recorde na história da cidade.
Seus esforços aparecem nos indicadores de saúde: cresceu o número de leitos, de internações e de atendimentos, ambulatoriais e de emergência (veja quadro).
Foram criados também na gestão petista 23 serviços especializados: para a mulher, o trabalhador, o idoso, doente de Aids etc.
Para manter essa ampliação da rede, a prefeitura aumentou em 74,7% o número de funcionários -84 concursos foram feitos só pela Secretaria da Saúde de 89 a 92.
Mesmo assim, a máquina da saúde não andou na velocidade esperada. O hospital de Campo Limpo (zona sul), por exemplo, foi aberto com menos da metade de seus leitos operando.
Carlos Neder, secretário da Saúde de Erundina na segunda metade de sua gestão, afirma que o processo de abertura de um hospital deve obedecer a um cronograma. Ativar todos os leitos de uma vez colocaria os pacientes em riscos.
Na verdade, o projeto petista encontrou forte resistência entre os médicos. No primeiro ano de governo, a categoria entrou em greve. Segundo Eduardo Jorge, então secretário da Sáude, a categoria exigia um índice de aumento maior que o oferecido a outros funcionários da saúde.
Para reorganizar, racionalizar e montar as equipes dos hospitais e dos novos serviços, Erundina criou a "remoção zerada" e tentou acabar com os plantões de 24 horas.
Pela remoção, os mais antigos tinham direito a escolher o local de trabalho. A idéia -segundo Eduardo Jorge- era "reequilibrar as equipes e fazer justiça" a funcionários mais antigos.
A grande maioria, no entanto, optou pela região central, deixando a periferia abandonada.
Nem o "adicional de distância", criado pela prefeitura, resolveu o problema. Pelo sistema, médicos que optassem pelas regiões mais afastadas ganhariam mais do que os que atendessem no centro.
Nos plantões de fins de semana, o normal era encontrar menos de um terço dos médicos escalados trabalhando. O problema é que os médicos subdividiam os plantões e, quando os pacientes deveriam encontar quatro médicos atendento, só havia um.
A redução do plantão de 24 horas também encontrou resistência. O objetivo era melhorar a qualidade do atendimento, mas a idéia não vingou. "Concordamos que plantões de 24 horas não são racionais, mas aqueles que já trabalhavam nesse sistema se sentiam no direito de mantê-lo", diz Eurípedes Carvalho, presidente do sindicato dos médicos na época.
Conselhos
Uma forma de acompanhar o trabalho dos médicos e funcionários na gestão petista eram os conselhos de saúde.
Previstos na Constituição, os conselhos são formados por representantes dos usuários (50%), dos trabalhadores da saúde e da administração. A definição das políticas de saúde e suas prioridades devem ter a aprovação desses conselhos.
A criação de serviços especiais, como o atendimento à mulher e ao trabalhador, foi definida e incentivada nesses conselhos.
Para José Knoplich, coordenador do PAS, os conselhos eram um "excesso de democratismo" que mais emperravam que ajudavam.
Os diversos secretários de saúde de Maluf ignoraram os conselhos.

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