São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Não chore, Argentina

SÍLVIO LANCELLOTTI

Sobrou até para Carlos Menem, o presidente da Argentina. Na última terça-feira a assessoria de imprensa da Casa Rosada, a sede do governo do país vizinho, liberou um comunicado desvencilhando Carlos Menem de um certo Guilhermo Estebán Cóppola, empresário de Dieguito Maradona e acusado de liderar um grupo de traficantes de cocaína.
Segundo o comunicado, doloroso, a existência de uma amizade eventual entre Menem e o empresário "não implica, evidentemente, uma cumplicidade com as presumidas atividades delituosas de Cóppola".
Ah, não chore por ninguém, querida Argentina.
Não chore por Menem, que já se permitiu fotografar, fazendo jogging, com tal pequeno embusteiro. Não chore por Cóppola, um equívoco na natureza. E nem mesmo por Dieguito, que perdeu todos os direitos à compreensão.
Quando principiou a sua carreira universal, Maradona ostentava, como manager, um amigo dileto, Jorge Horacio Cyterszpiler, o "El Ruso".
Nos entornos de 84, se apaixonou por Cóppola, um caixa de banco que cuidava dos investimentos de alguns astros do Boca Juniors.
Dieguito, então, se transferiu à Itália e, lá, pela primeira vez, a imprensa conectou Cóppola ao tráfico de entorpecentes. Maradona trocou de empresário. Em 91, adotou como patrono o corretíssimo Marcos Franchi, que batalhou para salvar a carreira e -a vida- do ex-"Pibe de Oro".
Em 95, todavia, Maradona abandonou Franchi e voltou a se ligar a Cóppola. Equívoco. Fim de carreira e fim de vida. O Dieguito de hoje, que jura permanecer na tona em honra das filhas, Dalmita e Iannina, nada mais tem para oferecer às pequeninas e ao mundo -além da vergonha.
A tristeza de Franchi é muito maior do que as desculpas de Menem...

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