São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996
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Nova onda de greves ameaça parar a França

Metas da moeda única européia são culpadas pela insatisfação

BETINA BERNARDES
DE PARIS

Manifestações por mais empregos, aumentos salariais, defesa do serviço público e protestos contra privatizações.
A pauta de reivindicações é idêntica à de centrais sindicais brasileiras, mas as passeatas não tiveram São Paulo, Rio ou Brasília como cenário e sim as mais importantes cidades francesas.
A França vive a expectativa de enfrentar em novembro e dezembro um movimento grevista nos mesmos moldes do que o registrado em 1995 -ou até maior.
Se, no ano passado, para as categorias que estavam no coração do movimento havia reivindicações mais concretas (contra reformas na aposentadoria, por exemplo), agora há um sentimento difuso de descontentamento com a situação.
Neste ano, a supressão de cerca de 6.000 cargos no funcionalismo e o congelamento de salários impulsionam o movimento, mas não explicam por si só o apoio de 64% dos franceses (segundo pesquisa do jornal "Le Parisien").
"Há um sentimento muito forte de cólera e até mesmo de revolta na população. Não há negociações salariais, e dificilmente uma família não conta com pelo menos um desempregado", disse à Folha Alphonse Veronese, secretário de Relações Internacionais da CGT (Confederação Geral do trabalho).
O movimento sindical francês aposta na insatisfação medida pelas pesquisas e procura se unir para organizar manifestações mais amplas no próximo mês.
A França tem 3,085 milhões de desempregados, que correspondem a 12,6% da população ativa. O PIB (Produto Interno Bruto) baixou 0,4% no segundo trimestre.
Culpado
A população, de acordo com diferentes pesquisas de opinião, vê nas metas fixadas no Tratado de Maastricht para a moeda única européia grande parte da responsabilidade pelos problemas econômicos atuais (leia abaixo).
O presidente Jacques Chirac defende a redução da jornada de trabalho como uma alternativa ao desemprego, mas não pensa em fazer uma lei sobre o assunto.
Estatísticas mostram que cerca de 400 mil pessoas poderiam entrar no mercado com a redução.
"Defendemos uma jornada de 35 horas (a atual é de 39), sem perdas salariais, mas queremos uma lei garantindo", diz Veronese.

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