São Paulo, domingo, 20 de outubro de 1996 |
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Grupo quer independência total de negros
CLÁUDIA TREVISAN
Estruturada de maneira semelhante à de um governo, a Nação do Islã tem seus próprios "ministérios", responsáveis por áreas como saúde, educação, finanças e assistência social. A face mais visível desse "governo paralelo" são os integrantes do Fruto do Islã, guarda particular que usa uniformes azuis, com gravatas borboleta e bonés com as iniciais FOI ("Fruit of Islam"). "Eles não usam armas, mas são exímios lutadores de artes marciais", disse à Folha o professor Mattias Gardell, do departamento de teologia da Universidade de Uppsala, na Suécia. Nesse governo paralelo, a pessoa mais poderosa é Louis Farrakhan, 63, que se apresenta como o herdeiro espiritual de Elijah Muhammad, o homem que fundou a Nação do Islã na década de 30. "Não é um governo democrático", afirma Gardell. "É uma teocracia, já que Farrakhan é considerado o interlocutor de Deus." Gardell, que acabou de escrever um livro sobre a Nação do Islã, estudou a organização durante seis anos, de 1988 a 1994. Em seu trabalho, frequentou as mesquitas mantidas pela organização, conversou com seus fiéis e fez várias entrevistas com Farrakhan e outros dirigentes. "O que eles estão tentando fazer é construir um império econômico. Eles tentam fazer uma nação negra auto-suficiente. É um longo caminho, mas eles tentam", diz Gardell, que terá seu livro lançado em novembro pela editora da Universidade Duke. A marcha Farrakhan ganhou projeção internacional depois que realizou em Washington a Marcha de 1 Milhão de Homens, no dia 16 de outubro do ano passado. Desde então, se envolveu em várias polêmicas com o governo dos EUA e a comunidade judaica, que o acusa de anti-semitismo. Segundo Gardell, o projeto de Farrakhan de construir uma nação negra independente é totalmente separatista. "Ele acredita que negros e brancos não devem viver juntos porque, em sua opinião, os filhos de donos de escravos jamais vão tratar os filhos de escravos com respeito", diz. A defesa da auto-estima tem um papel fundamental no fortalecimento da Nação do Islã. Farrakhan afirma que a raça negra é divina e deve ser cultuada como tal. O discurso moralista e em defesa de prosperidade financeira é outro responsável pela transformação que os integrantes da Nação do Islã dizem ter ocorrido em suas vidas. "O ideário da Nação do Islã é muito semelhante aos princípios que nortearam a criação da sociedade americana branca." Os integrantes da Nação do Islã podem ser reconhecidos à distância. O guarda-roupa típico inclui terno, gravata borboleta, chapéu, sobretudo (mesmo se não estiver muito frio) e óculos escuros (mesmo se for noite). Apesar de não haver uma regra obrigatória, as mulheres costumam cobrir a cabeça, seguindo a tradição islâmica. No espírito de independência em relação aos brancos, a Nação do Islã mantém escolas de primeiro grau para os filhos dos seguidores. Elas adotam o currículo mínimo exigido pelo governo dos Estados Unidos e incluem disciplinas como língua árabe, islamismo e história afro-americana. Texto Anterior: Ririe quer um parque espacial Próximo Texto: Negros são maioria dos islâmicos norte-americanos Índice |
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