São Paulo, segunda-feira, 21 de outubro de 1996
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Marcha reúne 275 mil na Bélgica

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Cerca de 275 mil pessoas participaram de uma marcha em Bruxelas, Bélgica, motivados pela descoberta de uma rede de sequestro, abuso sexual e morte de crianças.
Pelo menos quatro crianças morreram (duas por falta de alimentação) em poder de um grupo de belgas acusados de pedofilia.
O objetivo da manifestação era prestar solidariedade aos parentes das vítimas e protestar contra as autoridades judiciais e políticas do país, acusadas de não ter agido corretamente no caso.
A Marcha Branca, como foi chamada, reuniu uma das maiores multidões da história do país, que tem 10 milhões de habitantes.
A cidade de Bruxelas tem apenas 135 mil moradores, e sua região metropolitana, 950 mil.
Sob o céu nublado, os manifestantes carregavam balões brancos e flores. Alguns também tinham roupas e chapéus brancos.
Trens
Durante a manifestação, milhares de pessoas ainda chegavam à tarde na Estação do Norte de Bruxelas em trens lotados.
Além dos 22 trens comuns que chegam à cidade no domingo, foram colocados outros 34 trens para servir à marcha. Os trens estavam sendo parados antes de chegar a Bruxelas para evitar superlotação nas estações.
Não estavam sendo cobradas tarifas de metrô por temor de que a região central da cidade ficasse intransitável por excesso de carros.
A passeata estava prevista para começar às 14h (10h em Brasília), mas foi adiada por meia hora por causa do excesso de pessoas. Cerca de 1.400 policiais estavam fazendo a segurança da manifestação, que transcorreu sem incidentes.
A marcha foi convocada pelos pais das quatro garotas mortas e de duas que estão desaparecidas. Eles queriam protestar contra "um sistema judicial que favorece os pedófilos", como afirmaram.
Envolvimento
A mídia belga afirma que existiu envolvimento de autoridades policiais, judiciais e políticas na rede de abuso infantil. Já foram acusadas 13 pessoas no caso, mas não existem provas de que a rede teria políticos e juízes envolvidos.
A polícia belga foi acusada de ter agido imprudentemente no caso por ter ignorado denúncias de que Marc Dutroux, que cumprira três anos de prisão por abuso sexual de menores, estava fazendo reformas em sua casa para abrigar crianças.
Algumas faixas mostravam a desconfiança com as autoridades: "Parem a operação de proteção da polícia e dos tribunais".
A manifestação ganhou forte tom de protesto também por causa do afastamento do popular juiz Jean-Marc Connerotte das investigações.
Ele foi afastado por ter aceitado um jantar gratuito oferecido por parentes das vítimas.
Reconhecendo que a manifestação de ontem era um "sinal" dos belgas, o premiê Jean-Luc Dehaene anunciou a criação de um Centro para Crianças Desaparecidas para toda a Europa, similar ao que existe nos Estados Unidos.
No fim da Marcha Branca, ele recebeu os parentes das vítimas da rede de pedofilia.
Durante o encontro, o primeiro-ministro belga também prometeu levar a investigação "até o final" e uma modernização da Justiça "para torná-la mais humana".
França
A francesa Françoise Moreno, 24, confessou anteontem ter matado a sua filha de três anos. Françoise havia tentado culpar pedófilos pelo crime, já que a filha foi estuprada depois de morta. A francesa negou envolvimento no estupro.

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