São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996
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In dubio pro gol

JUCA KFOURI

De todas as promessas feitas antes de o Campeonato Brasileiro começar, uma, sem dúvida, está sendo cumprida.
Será chover no molhado dizer que as arbitragens estão menos complacentes com a violência, tão grande é o número de cartões amarelos e vermelhos.
É só por isso os árbitros, sempre tão criticados e fiscalizados cruelmente pelas câmaras de TV que a tudo vêem, merecem os parabéns. Eles estão protegendo o talento do jogador, algo inestimável.
Mas, se os erros de arbitragens são tão antigos como a própria arbitragem e, vale repetir, devem ser considerados como parte integrante do jogo, algo assim como uma bola na trave, um gol perdido pelo atacante ou uma falha do goleiro, há orientações que ainda podem minimizar seus equívocos.
Uma delas é fundamental e diz respeito à tão discutida regra do impedimento.
Os assistentes do árbitro nada têm feito para merecer a promoção de bandeirinha ao novo nome.
Quem viu o jogo entre São Paulo e Corinthians pôde testemunhar, mais uma vez, uma série quase criminosa de impedimentos mal marcados. E tudo porque no Brasil, ao contrário do que vem acontecendo na Espanha, os tais assistentes estão fazendo ouvidos de mercador para a orientação da Fifa no sentido de, em situações duvidosas, dar prioridade ao gol, ou seja, deixar a jogada seguir.
Para quem quiser ver, e ouvir, não é só mais a mesma linha que deixou de caracterizar o impedimento. Em dúvida sobre a posição do atacante, como faz o juiz diante do réu, o assistente deve decidir a favor de quem pode marcar o gol.
É justo e sensato que seja assim. Claro que o temor do ex-bandeirinha tem explicação. Se ele deixa seguir a jogada duvidosa que acaba em gol e, de fato, o atacante está em posição de impedimento, o barulho dos "tira-teimas" é muito maior do que quando ele interrompe a jogada para não se comprometer.
Só que se a preocupação do assistente é a de ser poupado, melhor mudar de profissão.
Afinal, desde a sábia orientação da Fifa, ele sempre terá o argumento de que teve dúvida sobre a posição do atacante e deixou a jogada seguir.
Trata-se de uma mudança cultural no futebol que pode causar ruído ao ser implantada. Depois é assimilada e passa a fazer parte de regra.
Tudo muito simples e a favor do futebol.

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