São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996 |
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Personagens são autores da trama em "Conto de Verão"
INÁCIO ARAUJO
Sua função seria, então, organizar tempo e espaço, dispor atores, luzes e cores. Mas é a ausência do diretor o que existe de mais incômodo em seus filmes. Fomos de tal forma habituados a crer que, por trás das imagens, existe um diretor articulando o destino dos personagens, que chega a espantar a absoluta ausência de arbítrio de seus filmes. A narrativa rola aparentemente à deriva. Os tempos às vezes prolongam-se. Os mais exaltados reclamam da falta de montagem. Engano: a deriva é o princípio de tudo. Mesmo quando uma trama (no sentido tradicional da palavra) se arma, é porque os próprios personagens se encarregam de urdi-la. O que mais espanta é a continuidade desse trabalho. Era assim em "Le Signe du Lion" (O Signo do Leão), seu primeiro filme, de 1959. Continuou assim na série "Contos Morais", nas "Comédias e Provérbios" e, agora, nos "Contos das Quatro Estações". Não é o que costumamos esperar de cineastas franceses, normalmente cerebrais. No entanto, percebe-se que por trás de toda essa operação existe uma teoria sólida (e quem lê seus escritos logo nota que é solidíssima). Na verdade, o espectador que não conheça previamente a obra do cineasta, pode assistir ao "Conto de Verão" com a mesma disposição de quem escuta música clássica: tudo o que vemos contraria o que estamos habituados a ver no cinema. Mas basta dar um tempo, adquirir um mínimo de familiaridade com as imagens, que tudo se torna fácil. (IA) Texto Anterior: Eric Rohmer registra erotismo do verão Próximo Texto: O Esquema Rohmer Índice |
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