São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996 |
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"Gabbeh" louva com fantasia e cores a cultura em extinção
AMIR LABAKI
Os desenhos desses tapetes nascem daquilo que acontece com aqueles que o tecem. Quando atravessam um deserto, há o amarelo; se alguém morre, é a vez do preto". "Gabbeh" é também o título do primeiro de seus dois novos filmes programados pela mostra. "Esse filme me permite mostrar como a vida engendra as obras", continua Makhmalbaf. A reflexividade de "Salve o Cinema" (1995) continua assim, sob nova forma. O fio narrativo parte de um velho casal da tribo gashgai. Eles páram à beira de um riacho para lavar o "gabbeh". A anciã faz o serviço como que conversando com seu tapete. O discurso oral como que magicamente materializa uma bela jovem, também chamada Gabbeh, cuja história acompanhamos. Seu drama amoroso é o constante adiamento por sua família de seu casamento com um cavaleiro que acompanha de longe as andanças da tribo. Primeiro, é a vez de um tio se unir; depois, de a mãe dar a luz. As relações entre vida e arte, natureza e homem, o lugar da mulher no Irã e o futuro das culturas particulares são alguns dos temas que Makhmalbaf articula. A reconstituição cuidadosa de uma tradição agônica se impõe nos interstícios da narrativa. Recorrendo a deslumbrantes "tableaux-vivants", Makhmalbaf nos faz lembrar o melhor Paradjanov ("A Lenda da Fortaleza Suram"). "A vida é cor", não cansa de afirmar "Gabbeh", através de planos e palavras. Talvez seja até excessivo, mas a repetição por vezes é a voz do desespero. Filme: Gabbeh Direção: Mohsen Makhmalbaf Quando: Hoje, às 13h, no MASP. Texto Anterior: Câmera ambígua e frescor da narrativa marcam "Guy" Próximo Texto: Intervenção em Amado é satisfatória Índice |
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