São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'InSITE 97' leva brasileiros à fronteira

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A fronteira entre as cidades de San Diego, nos EUA, e Tijuana, no México, vai desaparecer durante dez semanas no ano que vem, a partir de 26 de setembro. Esse é um dos objetivos do projeto "InSITE 97", evento trienal que vai reunir cerca de 40 artistas plásticos das Américas para que produzam trabalhos específicos para a região.
A seleção dos artistas foi feita por quatro curadores internacionais: Sally Yard (EUA), Jessica Bradley (Canadá), Olivier Debrise (México) e Ivo Mesquita (Brasil).
A equipe de curadoria selecionou artistas dos EUA, México, Jamaica, Canadá, Argentina, Venezuela, Cuba, Chile, República Dominicana, Colômbia e Brasil.
Entre os escolhidos estão Vito Acconci, Francis Alys, Gonzalo Díaz, José Antonio Hernández-Diez, David Avalos e Helen Escobedo. Do Brasil, foram selecionados quatro artistas: Anna Maria Maiolino, Rosângela Rennó, Iran do Espírito Santo e Miguel Rio Branco.
"É uma região de fronteira muito interessante, onde convivem classes sociais absolutamente distintas e onde existe grande movimento e trânsito entre as duas cidades", disse Michael Krichman, diretor-executivo da parte americana do projeto.
Krichman esteve no Brasil na semana passada, acompanhado por Carmen Cuenca, diretora da parte mexicana, e pela curadora Sally Yard. O objetivo da visita era conhecer melhor os artistas brasileiros selecionados e visitar a Bienal. Estiveram também no "Antarctica Artes com a Folha".
O projeto conta com um orçamento total de US$ 1,5 milhão. Os custos de cada projeto variarão de acordo com as especificidades de cada obra, que deverão, porém, ser desenvolvidos a partir de uma base de US$ 15 mil.
"Não houve escolhas individuais de cada um dos curadores. Toda a equipe selecionou os artistas. Pensamos em quais artistas trabalhariam de uma maneira mais enérgica em um contexto muito específico: o espaço publico, a conjunção de realidades diversas...", disse Sally Yard.
As obras deverão ser concebidos para espaços públicos localizados nos dois lados da fronteira. O projeto pretende ainda engajar a população das duas cidades em atividades nas áreas de vídeo, literatura e artes plásticas, desenvolvidas em escolas, bibliotecas públicas e centros comunitários locais.
Segundo os organizadores, a seleção dos artistas por meio de uma curadoria conjunta e as especificidades da produção de cada um deles são as "garantias" para que a mostra não assuma características políticas que prevaleçam sobre as estéticas.
"O projeto se fundamenta na intenção de ultrapassar as questões geográficas e políticas que envolvem uma fronteira, que é uma possibilidade muito tentadora. A região deve funcionar como um microcosmo de toda a América. Esse é o desafio do projeto", disse Carmen Cuenca.
"Uma forma de escapar desse perigo está nos próprios artistas selecionados. A fronteira é uma presença física muito forte e, por muitos anos, foi explorada pelos artistas como um objeto político. É quase impossível fugir disso. Ela está lá e acredito que também deverá ser levada em consideração, mas não acredito que seja uma característica que prevaleça", disse Michael Krichman.
Os artistas já estiveram durante oito dias na região, para um primeiro mapeamento da área. Os projetos devem estar prontos até janeiro para que sejam requeridas as autorizações de uso dos espaços públicos das duas cidades.

Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch
Próximo Texto: Cineastas escolhem 'Tieta' para o Oscar
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.