São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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EUA dão asilo político a gay brasileiro

CLÁUDIA TREVISAN
DE NOVA YORK

A Justiça norte-americana concedeu asilo político a um homossexual brasileiro que alegou ser perseguido pela polícia e grupos paramilitares em razão de sua opção sexual.
P., 31, tentou entrar ilegalmente nos Estados Unidos em dezembro e foi preso logo depois de cruzar a fronteira com o México.
Seu caso chamou a atenção de alguns ativistas da defesa de direitos humanos, que arrecadaram dinheiro suficiente para pagar a fiança de P. em março.
Assim que foi solto, o brasileiro apresentou o pedido de asilo político com ajuda de estudantes da Faculdade de Direito de San Antonio (Texas). A decisão a seu favor foi dada na semana passada.
A advogada Kathleen Culhane disse à Folha que P. é de Goiás e que não quer revelar sua identidade com receio de represálias contra sua família no Brasil.
Especialistas
Para conceder o asilo, o juiz Glenn McPhaul se baseou no testemunho de P. e nas declarações de especialista em homossexualidade e história latino-americana.
P. afirmou que foi preso, espancado e ferido a tiros pela polícia brasileira em razão de sua preferência sexual. Também disse que vários de seus amigos homossexuais foram assassinados por autoridades brasileiras.
Um de seus amigos, segundo P., foi morto e teve seu corpo queimado por policiais.
Ele afirmou ao juiz que todas essas ações tinham por objetivo "limpar" a sociedade brasileira de homossexuais.
Entre os especialistas ouvidos no caso está o professor californiano James Green, especialista em história latino-americana.
Green afirmou ao juiz que grupos paramilitares frequentemente torturam e matam homossexuais no Brasil.
A advogada também apresentou uma carta da Anistia Internacional sobre a situação dos gays no Brasil e um estudo do professor sueco Don Keelik, especialista em homossexualismo no Brasil.
Pioneiro
Segundo a advogada, essa não é a primeira vez que um homossexual brasileiro obtém asilo político nos Estados Unidos alegando perseguição de autoridades brasileiras.
O caso pioneiro ocorreu em São Francisco (Califórnia) e beneficiou Marcelo Tenório.
Há cerca de uma mês e meio, uma decisão dada em New Jersey favoreceu um homossexual brasileiro portador de HIV.
"Nosso cliente está bastante aliviado e ansioso para recomeçar sua vida", afirmou Kathleen. Segundo ela, P. acabou de arrumar um emprego em San Antonio, onde pretende viver.

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