São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996
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Violência achata expectativa de vida

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A violência, causa de 70% das mortes de homens com idades entre 15 e 29 anos no Brasil, impede que a expectativa de vida do brasileiro atinja os 66 anos de idade.
A conclusão consta de trabalho do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e da Ence (Escola Nacional de Ciências Estatísticas) apresentado este mês no 10º Encontro Nacional de Estudos de População, em Caxambu (MG).
Segundo o censo de 1991, a expectativa de vida do brasileiro (homem e mulher) é de 65 anos. O censo de 80 havia fixado a expectativa de vida em 61 anos.
"Se não houvesse tantas mortes entre 15 e 29 anos, a esperança de vida do brasileiro já seria de 66 anos", disse a coordenadora de Estudos Proporcionais do Ipea, Ana Amélia Camarano.
A mortalidade de homens jovens é creditada pelos autores do estudo -Ana Amélia Camarano, Kaizô Beltrão e Marly dos Santos Pinto- ao aumento do número de homicídios, suicídios e acidentes de trânsito.
O trabalho do Ipea e da Ence mostra que o aumento da mortalidade masculina entre 15 e 29 anos vem ocorrendo em todo o Brasil.
Nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio, os homicídios e suicídios lideram as causas de mortes de homens jovens.
Em Brasília, os acidentes de trânsito respondem pela maior parte das mortes de homens entre 15 e 29 anos.
A mortalidade de mulheres na mesma faixa de idade não tem aumentado, de acordo com o estudo, cujo resumo foi publicado no boletim "Como Vai? População Brasileira", do Ipea.
Surpresa
O aumento da mortalidade entre jovens surpreendeu os pesquisadores, apesar de já ter ocorrido em outros países.
"Historicamente, a mortalidade no Brasil sempre diminuiu em todas as faixas de idade. Ao analisarmos os dados do censo de 91, notamos o aumento da mortalidade de homens jovens", afirmou Beltrão, diretor da Ence.
Fenômeno semelhante ocorreu nas décadas de 50 e 60 na Inglaterra e na França. A causa do crescimento foi creditada pelos governos dos países europeus aos acidentes de trânsito.
A partir de 1968, campanhas de melhoria de estradas e de conscientização de motoristas começaram a reverter a mortalidade de jovens ingleses e franceses.
No Brasil, como os registros de violência vêm crescendo, os índices de mortes de jovens não devem ter baixado desde o último censo.
"Pelo contrário. Como não houve um movimento para estancar isso, a situação deve ter piorado", afirmou o diretor da Ence.
Historicamente, as mortes sempre cresceram menos que a população no país. Essa situação se reverteu. De 80 a 91, a população do país cresceu 23%. No período, as mortes violentas de homens entre 15 e 29 anos cresceram 51%.

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