São Paulo, quarta-feira, 23 de outubro de 1996 |
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Sexto mamona não subiu no jato e hoje guia caminhão
ARMANDO ANTENORE
O rapaz de 24 anos acompanhou tão de perto a ascensão da banda de Guarulhos que muitos o chamavam de "sexto mamona". Era o "faz-tudo" dos músicos: carregava instrumentos, concebia figurinos, auxiliava os técnicos de som. E se orgulhava de viajar sempre no mesmo avião de Dinho, Bento, Júlio, Samuel e Sérgio. Só deixou de ir duas vezes. A primeira, em um vôo de Belém para São Paulo. A outra, no Learjet que se chocou contra a serra da Cantareira. "Nunca entendi bem o que aconteceu", conta Ralado. "Três ou quatro meses depois do acidente, ainda me pegava pensando que preferia ter subido naquele jato." Não subiu porque cedeu o lugar para o ajudante de palco Isaac Souto. O jovem, que morreu com os cinco integrantes do grupo, trabalhava como coveiro em Jundiaí (SP) quando o primo Dinho o incorporou à trupe dos Mamonas. Sem juízo Já Ralado, antes de a banda estourar, ganhava a vida dirigindo caminhão -um Mercedes modelo 608, amarelo. Fazia carretos na Grande São Paulo e faturava, em média, R$ 2 mil por mês. Há 90 dias, retomou o velho ofício. O caminhão ainda é um Mercedes 608, só que azul. "Não tive juízo", lamenta. "Torrei toda a grana que consegui com os Mamonas." No auge do grupo, os rendimentos mensais de Ralado saltaram para R$ 5 mil. "Fiquei louco. Trocava de carro quase semanalmente. Comprava um, enjoava, punha de lado e arranjava outro." Quando o Learjet caiu, vendeu os automóveis e montou uma pequena papelaria em Guarulhos, mas o negócio não vingou. "Aprendi, de um jeito muito doloroso, que o mundo realmente dá voltas." Narrador Amigo de Dinho desde a adolescência, Ralado foi o primeiro a entrar para a equipe técnica dos Mamonas -um time que, logo, contaria com mais sete profissionais: Johnny, Geléia, Macarrão, Sagüi, China, Tição e Shure Lambert (ou Isaac Souto, o ex-coveiro). "Assim que a banda arrumou gravadora, larguei os carretos e resolvi me dedicar inteiramente à música", relembra. "Trabalhei quatro meses na produção do disco sem ganhar um centavo. Fazia tudo por amor e por confiar em Dinho. Ele falava que, se ficasse rico e famoso, me tiraria para sempre do caminhão." Lui Farias diz que ainda não sabe exatamente como irá aproveitar Ralado no longa-metragem. O mais provável é que o inclua entre os narradores da história. "Estou feliz em participar", diz o "sexto mamona". "Pensei que ninguém mais se lembrasse de mim." (AA) Texto Anterior: Mamonas Assassinas, o negócio Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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