São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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OAB diz que preso pode ter sido executado

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) afirma que há "indícios de execução" na morte de José Vanderlei de Souza, 18.
Souza foi morto com um tiro na cabeça dentro do 85º DP, no Jardim Mirna (zona sul de São Paulo), às 11h de terça-feira.
Ele havia sido detido quatro horas antes, acusado de ter participado do resgate de 56 presos da delegacia, ocorrido domingo.
Quando foi baleado, ele estava com o braço esquerdo algemado ao braço direito de outro suspeito.
O tiro foi disparado pelo investigador Maudiney Antônio de Jesus, 32, que trabalha no 85º DP. Segundo ele, Souza, mesmo algemado, tomou a arma de um carcereiro.
Para "proteger o colega", Jesus teria dado um tiro para o alto. Como ele não soltou a arma, o investigador deu um tiro em sua cabeça.
A corregedoria da Polícia Civil abriu ontem um inquérito para investigar as circunstâncias da morte do acusado.
Para o advogado Jairo Fonseca, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, a versão do crime apresentada pela polícia tem vários pontos obscuros.
"A comissão vai acompanhar com rigor a apuração deste caso, pois há vários indícios de que o estudante tenha sido executado", afirmou Fonseca.
Segundo ele, a polícia vai precisar provar durante o inquérito que Souza foi realmente morto com uma arma na mão. "É difícil acreditar que uma pessoa algemada consiga tomar a arma de um policial dentro de uma delegacia."
Mas, mesmo que o investigador tenha agido em legítima defesa do colega, Fonseca acha que o Estado deve ser responsabilizado pela morte de Souza.
"No mínimo houve incompetência dos policiais", afirmou. "Eles jamais poderiam ter deixado uma arma ao alcance das mãos de um preso que está sob a custódia do Estado."
Um advogado escolhido pela OAB irá auxiliar a família de Souza durante a investigação de sua morte. Fonseca afirmou que a comissão também deve pedir outra perícia, "mais isenta", do local onde aconteceram os disparos.
Para Fonseca, é estranho que o policial afirme ter disparado um tiro para o alto antes de matar o acusado. "Em uma situação tensa como essa, ou você não atira ou atira para matar", justificou.
O fato de Souza ser acusado de ter cometido um crime que "humilhou" a polícia também agrava a suspeita de execução, segundo Fonseca.
A reportagem da Folha apurou no Instituto Médico Legal que o tiro foi disparado a cerca de 30 centímetros da testa de Souza. Segundo os peritos, isso caracteriza execução.

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