São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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VIDA AINDA CURTA

Parte dos brasileiros, principalmente os de baixa renda e do sexo masculino, já nasce com dois grandes desafios: sobreviver aos primeiros meses de vida e, conseguido isso, entrar na casa dos 30 anos -sem ter sido atingido, na juventude, por alguma forma de morte violenta.
O primeiro objetivo passou a ser alcançado com mais facilidade nas últimas décadas, com a melhora do saneamento básico nas regiões pobres. Mas o segundo obstáculo ainda está longe de ser vencido por completo.
Estudo feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada), baseado em dados de 91, mostra que a expectativa de vida dos brasileiros é de 65 anos. Mas, para os pesquisadores, já poderia ser de 66, não fosse o alto índice de mortes violentas, responsáveis por cerca de 70% dos óbitos de homens entre 15 e 29 anos.
Apesar dos cinco anos que separam o período pesquisado do momento atual, a análise das informações revela as graves consequências dos índices de violência da sociedade brasileira, que estão privando parte da população de cerca de dois terços de sua expectativa de vida.
As mortes violentas deixaram há muito de ser apenas questão de segurança pública para o país. Afetam diretamente a composição da sociedade e até mesmo o potencial produtivo da população -com a perda de jovens em condições de seguir trabalhando por décadas.
A estabilidade econômica, se mantida por um longo período, poderá melhorar os indicadores sociais e reduzir os índices de violência registrados hoje. Mas, contra mortes prematuras causadas pelo trânsito, por exemplo, ainda será necessário um extenso processo educativo para mudar o comportamento de uma parcela da própria população.
Ao longo da história, o homem tem conseguido prolongar seu tempo de vida. Resta evitar que a violência reduza o efeito dos avanços na ciência e da melhoria nas condições de vida.

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