São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 1996
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O vilão errado

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Avolumam-se indicações de que o governo está gastando energias demais com um tema, a reforma administrativa, que talvez não seja a salvação da lavoura em matéria de ajuste das contas públicas.
O mais recente indício vem da "Revista da Indústria", semanário editado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que está longe de ser um órgão de defesa do funcionalismo público.
Diz a revista: "As despesas com custeio de pessoal, incluindo os encargos, vêm sendo razoavelmente bem administradas. O total do dispêndio neste item, em setembro, foi 5,9% inferior ao de agosto e 13% menor do que o ocorrido em setembro do ano passado".
E acrescenta: "Já o desembolso apenas com juros, em setembro, atingiu R$ 1,2 bilhão -o dobro do que vinha sendo gasto mensalmente, em média, no primeiro semestre, e o equivalente a 45% dos gastos com pessoal no mês".
Mais: nos 12 meses transcorridos até junho, a despesa pública total cresceu 12,4%, para o que o gasto com pessoal contribuiu bem menos (subiu 17,3%) do que os gastos com a dívida (aumentaram 43,5%).
Não estou querendo dizer com isso que não há necessidade de uma reforma administrativa. Há. O Estado brasileiro está em frangalhos e precisa de uma recauchutagem geral. Mas pôr a ênfase, como o governo vem fazendo desde o princípio, na satanização do funcionalismo e nos seus supostos ou reais privilégios não parece a melhor maneira de se chegar a um Estado que seja ao mesmo tempo equilibrado contabilmente e eficaz como prestador de serviços.
Ainda mais que as contas estão demonstrando que são os juros e não a folha de salários o grande vilão.
Sem mencionar o fato de que, como escreveu ontem o deputado Delfim Netto (PPB-SP), uma das dificuldades para reduzir o déficit está dada pelo crescimento relativamente minguado, associado aos juros elevados.

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