São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
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Caso acirra disputa entre polícia e Justiça

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A libertação dos acusados do crime do bar Bodega acirrou a disputa entre a polícia e o Ministério Público de São Paulo.
A investigação do assassinato de Adriana Ciola e de José Renato Tahan, na madrugada de 10 de agosto, no bar, localizado em Moema (zona sul de São Paulo), foi seguida pelo Mistério Público.
O acompanhamento do caso pelo promotor Eduardo Araújo da Silva apontou para falhas no inquérito policial, mostrando que os nove presos acusados do crime não poderiam ser processados por falta de provas.
Além disso, o promotor argumentou que os acusados afirmaram ter sido submetidos a sessões de tortura para confessar um crime que não teriam cometido.
O questionamento do promotor do trabalho do delegado titular do 15º DP, João Lopes Filho, responsável pelo inquérito do caso Bodega, levou ontem a Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo) a divulgar uma nota rechaçando o "controle interno" da polícia pelo Ministério Público.
Diz a nota da associação: "a maneira como foi tratado o caso pelo Ministério Público extrapola os limites da apuração do crime, vislumbrando-se mais uma manobra (...) para desmoralizar a investigação policial, com vistas ao fortalecimento do tão pretendido 'controle interno' da atividade policial por aquela instituição".
Há três semanas Polícia Civil e Ministério Público polemizam em torno do ato normativo 98/96 da Procuradoria Geral de Justiça de São Paulo, que determinou o controle externo da Polícia Judiciária paulista por promotores públicos.
Isso é, segundo esse ato, o Ministério Público passaria a zelar pela legalidade dos inquéritos policiais, não permitindo abuso de poder policial, e a denunciar eventuais violências contra presos. Além disso, participaria da elaboração de inquéritos policiais, embora não assumisse a presidência da investigação, que continuaria a cargo do delegado de polícia, no caso do Bodega, João Lopes Filho. A polícia é contra a norma, que considera "ilegítima".
"Não é novidade que há três semanas estamos envolvidos com um problema decorrente do ato 98/96, que pretende realizar o controle, embora dito externo, na realidade interno da Polícia Civil. Isso (o acompanhamento do inquérito do crime no Bodega pelo MP) nos deixa com um pé atrás, desconfiados de que possa ter sido usado para denegrir o trabalho da polícia", disse o presidente da Adpesp, Bismael Batista de Moraes.
"A nota da associação dos delegados é corporativista e absurda. O acompanhamento sempre existiu", disse o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Luiz Antonio Guimarães Marrey.

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