São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pai diz que berçário era sujo

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA

O vendedor Jéferson Antônio da Silva, 29, pai do menino Israel, morto aos oito dias com septicemia (infecção generalizada) no Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazaré, em Boa Vista (RR), afirmou ontem que o berçário da maternidade é sujo.
"O que eu vi não é o que eu esperava de um berçário", afirmou Silva. Morto em 19 de outubro, Israel é um dos 32 bebês que morreram em 20 dias no hospital.
Além de condenar a falta de higiene do hospital, Silva criticou também a forma como foi tratado pelos funcionários nos oito dias em que seu filho esteve internado.
"Eles (os médicos) são completamente despreparados."
Silva chegou ao hospital em 11 de outubro, quando sua mulher, Kely Pacheco de Alencar, 27, começou a sentir contrações aos sete meses de gravidez.
O menino Israel, prematuro, nasceu naquela mesma noite com 2,17 quilos. Durante os oito dias, Silva e sua mulher ficaram em uma das enfermarias do hospital.
No dia seguinte ao nascimento, Silva foi autorizado a visitar seu filho no berçário, onde o bebê estava em uma incubadora.
"Quando eu entrei lá, fiquei espantado. Eu pensava que um berçário de hospital era uma coisa mais limpa, que haveria um mínimo de preocupação com higiene." Durante sua visita ao berçário, funcionários teriam atravessado o recinto carregando um sujo botijão de gás. Nas encubadeiras, havia placa dizendo infectado.
O vendedor afirmou que teve que colocar roupas do hospital que não estavam lavadas para entrar no berçário. "Ao vestir aquele avental sujo de sangue, cheguei a pensar que era melhor ficar com a minha roupa."
Clima
Ele também disse que um clima de apreensão começou a tomar conta das enfermarias à medida que a notícia das mortes dos bebês começou a circular. "Várias mulheres que estavam na mesma enfermaria que a Kely começaram a perder os filhos."
Silva não pensa em processar o hospital. "O Ministério Público já afirmou que vai investigar. Vou esperar que tomem providências."

Texto Anterior: Problemas do hospital
Próximo Texto: Água sanitária não tem registro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.