São Paulo, sábado, 26 de outubro de 1996 |
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Polícia mata negro e causa choque racial Conflito na Flórida fere 11 CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
O governador Lawton Chiles, do Partido Democrata, do presidente Bill Clinton, mobilizou a Guarda Nacional para conter o motim. Clinton lamentou o incidente. O prefeito David Fischer colocou a cidade em estado de emergência por 72 horas, período em que é proibido comprar ou portar armas e comprar gasolina a não ser para ser colocada diretamente no tanque de veículos. Pelo menos 11 pessoas ficaram feridas nos incidentes, inclusive um policial atingido por uma bala e um repórter fotográfico espancado por adolescentes. Houve saques em diversas lojas. Os prejuízos ainda não foram estimados. Pelo menos 28 edifícios foram queimados. A destruição ocorreu no bairro habitado predominantemente pelos negros da cidade, que abrigou o debate entre os candidatos à Vice-Presidência dos Estados Unidos neste ano. O chefe de polícia local, Darrel Stephens, defendeu o comportamento do policial Jim Knight, que atirou cinco vezes contra Tyron Lewis, o motorista do carro. Segundo a versão policial, Lewis estava dirigindo seu veículo em alta velocidade e desobedeceu às ordens de Knight para que parasse. Quando Lewis parou num sinal vermelho, Knight o abordou, mas ele não atendeu a suas ordens para baixar o vidro e mostrar documentos. Segundo Knight, os disparos foram feitos quando o carro de Lewis começou a avançar e ele temeu ser atropelado. Testemunhas negras afirmaram que o carro apenas "deslizou" para frente e não atingiria o policial. A outra pessoa que estava no carro de Lewis não foi ferida. Lewis, 18, morreu na ambulância que o levava para um hospital. St. Petersburg tem 240 mil habitantes e apenas 540 policiais, 17% deles negros. É considerada uma das cidades da Flórida com menos policiais por habitante. Na semana passada, na mesma área onde Lewis foi morto, outro policial branco havia matado um negro que invadira a casa da ex-mulher com uma faca. Líderes da comunidade negra local dizem que policiais brancos consideram todos os negros suspeitos em potencial e os tratam com desrespeito. Mas a maioria deles recomendou calma e o uso de meios pacíficos para manifestar a sua indignação. O Departamento da Justiça disse que vai investigar a possibilidade de processar Knight por violação dos direitos civis de Lewis. O governador Chiles e o prefeito David Fischer se reuniram com líderes religiosos e políticos dos negros para os exortarem à calma. Pelo menos 20 pessoas foram presas durante e após os incidentes. Uma passeata autorizada para pedir a libertação dos detidos estava marcada para ontem à noite. A polícia e a Guarda Nacional vão se manter em estado de alerta por mais 24 horas. Mas o prefeito acredita que não haverá mais problemas nos próximos dias. A vizinhança onde Lewis foi parado é conhecida por abrigar tráfico de drogas. A maioria das casas tem problemas estruturais, e quase todos os moradores dependem da Previdência Social para sobreviver. Líderes políticos negros vêm pedindo há anos para que o governo do Estado ajude a urbanizar a área e ofereça cursos profissionalizantes para a comunidade local. O mais recente motim racial na Flórida aconteceu em 1989, em Miami, depois que um policial hispânico matou a tiros um negro que estava sendo perseguido por policiais. Uma pessoa morreu nos tumultos que se seguiram. Texto Anterior: Judeus perdem ação contra fascismo; Taleban diz ter tomado região de rival Dostum; Sueca revela namoro com francês Mitterrand; Karadzic "desonra" médicos, diz associação Índice |
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