São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Grupo dos EUA cria declaração de isenção

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Se a mulher pode escolher deixar de ser mãe caso tenha uma gravidez indesejada, o homem deveria ter o mesmo direito.
Esse argumento está ganhando espaço na discussão política nos EUA. Diversos grupos de defesa dos interesses dos homens têm mobilizado a opinião pública para que se discuta o assunto.
Desde janeiro, o (CNH) Centro Nacional dos Homens vem distribuindo milhares de cópias de uma declaração legal a ser usada por homens que não desejem o nascimento de um filho em gestação.
O documento, de três parágrafos, diz: "Por meio deste, abro mão de todos os direitos e responsabilidades pela criança abaixo referida. Eu não me comprometi com ela e não aceitarei qualquer obrigação em relação a ela".
Em 1995, 500 mil homens foram forçados nos EUA a assumir a responsabilidade por filhos que não quiseram ter. Todos foram obrigados a pagar por 21 anos um quarto dos seus vencimentos à criança. Quem se recusa pode ser condenado a quatro anos de prisão.
Segundo o CNH, cerca de 33% dos 6 milhões de nascimentos anuais registrados nos EUA envolvem pais que não os desejaram. A maioria desses casos não chega à Justiça ou porque o pai é casado com a mãe ou porque ele resolveu assumir a paternidade sem litígio.
Há casos dramáticos. Frank S., por exemplo (ele não quer que o sobrenome seja revelado), sustenta desde 1983 o filho de uma mulher que admitiu em juízo ter mentido intencionalmente a ele sobre o uso de pílulas anticoncepcionais. A advogada de Frank S. foi Karen DeCrow, ex-presidente da Organização Nacional das Mulheres.
DeCrow diz que "a Justiça determina que uma mulher pode tomar uma decisão unilateral e interromper a gravidez, mas o pai biológico não pode". "Mulheres autônomas que tomam decisões independentes não deveriam esperar que homens financiassem suas escolhas."
Desde 1973, o aborto é reconhecido como direito inalienável da mulher. DeCrow e outros advogados dizem que o fato de só a mulher desfrutar desse direito viola o princípio constitucional de que todos devem ser iguais perante a lei.
Eles também argumentam que a Constituição garante ao indivíduo o direito de determinar o curso de sua vida e que há jurisprudência estabelecida, por exemplo, para que ninguém seja obrigado a casar com quem não deseje ou a adotar um determinado método de controle de natalidade que não queira.
"Os homens vêm sendo tratados como subclasse, embora a Constituição diga que todos os cidadãos devem receber 'proteção igual'. Negar ao homem seus direitos reprodutivos é humilhante, opressivo, ofensivo aos princípios básicos da dignidade", diz DeCrow.

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