São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Entidades terceirizam bar, barbearia e limpeza

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Corte de custos, reestruturação, terceirização. Decisões como essas, que se tornaram rotineiras na vida das empresas, estão também sendo usadas por muitos sindicatos como uma forma de enfrentar problemas financeiros.
Não são todos os sindicatos que estão com dificuldades de caixa. Mas é grande o número dos que, nos últimos anos, constataram queda nas contribuições dos trabalhadores, sua principal fonte de receita. Essa redução tem sido provocada principalmente pelo aumento do desemprego.
Como a taxa de desemprego não aumentou de forma uniforme em todos os setores da economia nem em todas as regiões do país, a situação financeira dos sindicatos também varia muito.
Assim, os sindicatos de trabalhadores de setores como a indústria têxtil ou calçadista têm sido mais afetados pela redução na arrecadação, enquanto entidades que representam serviços não constatam essas mesmas dificuldades.
Clube para todos
Com menos dinheiro disponível, uma saída tem sido buscar opções criativas para elevar a receita, como é o caso do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Calçados de Franca (no interior de São Paulo), que decidiu aceitar qualquer pessoa como sócio do seu clube, antes exclusivo dos sindicalizados.
O sindicato viu cair para menos da metade -de 15 mil em 94 para 7 mil atualmente- o número de associados, segundo seu presidente em exercício, Nilton da Silva, 33.
Na região de Franca, existe uma grande concentração de fábricas de calçados, que foram abaladas pelo aumento nas importações, especialmente dos países asiáticos.
Bar e barbearia
Muito maior e com problemas financeiros maiores, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, com 150 mil sindicalizados, teve que adotar medidas administrativas também mais radicais.
Em 90, a receita do sindicato equivalia a cerca de R$ 85 milhões em dinheiro de hoje. Este ano, vão entrar nos cofres do sindicato algo entre R$ 50 milhões e R$ 55 milhões, informa Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da entidade.
Para enfrentar os problemas criados por uma redução substantiva na receita, o sindicato adotou uma série de providências, muitas delas terceirizando atividades.
O bar do sindicato, que dava um prejuízo de R$ 50 mil por mês, e a barbearia, por exemplo, foram terceirizados.
O mesmo aconteceu com o laboratório de análises clínicas. "Devia ser o único caso no mundo de sindicato dono de laboratório. E ele ainda funcionava mal. Teve caso de gente que achava que tinha AIDS e o resultado estava errado", conta Paulinho.
Computadores
Agora, o sindicato tenta diminuir sua principal fonte de despesas, o atendimento médico, e para isso conta com a ajuda de seis sindicatos patronais. Os metalúrgicos firmaram um convênio com esses sindicatos para criar uma fundação ("que funciona como uma Amil") para dar atendimento médico aos sindicalizados.
Com isso, o sindicato espera diminuir a despesa mensal de R$ 400 mil com atendimento médico.
Em outro front da batalha contra a escassez de dinheiro, os metalúrgicos investem em informatização e num cartão magnético para substituir parte da papelada.
Dispensável
A tendência de terceirização acabou levando a situações como a do Sindicato dos Trabalhadores de Asseio e Conservação de São Paulo, que representa faxineiros e outros funcionários que limpam escritórios e fábricas. O sindicato decidiu recentemente terceirizar exatamente a limpeza da sua sede.
Outros sindicatos têm demitido parte dos seus funcionários, como constata o Sindicato dos Empregados de Entidades Sindicais do Estado de São Paulo.
"Nós somos descartáveis", comenta José Milton Garrido de Paula, presidente do sindicato. Quando a situação fica complicada financeiramente, muitos sindicatos acabam decidindo cortar funcionários.

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