São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
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Taxa é usada para negociar

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os empresários mantêm os sindicatos como opção. Na negociação coletiva, se endurecerem o jogo, o sindicato quebra", diz Alencar Rossi, 54, consultor de bancos e de empresas de transporte.
Para o público externo, o grau de combatividade dos sindicatos está associado à mobilização da categoria. Para alguns negociadores profissionais, a sobrevida dos sindicatos depende de uma moeda de troca nos acordos coletivos: a contribuição assistencial.
É um percentual variável, descontado do salário de todos os trabalhadores. Os recursos vão para o sindicato. Alguns não cobram.
"Em uma negociação coletiva, se os empresários endurecem nesse item, o acordo não é fechado, mesmo que a proposta econômica seja boa", diz Rossi.
Minando os sindicatos
"Em um regime democrático, acho que esse é um assunto em que o patronato não devia se meter", diz Ademar Feiteiro, 54, negociador pelas empresas.
Ele diz que os sindicatos patronais algumas vezes procuram obstruir a negociação, ameaçando não fazer o desconto da contribuição assistencial. "São artifícios para minar a vida sindical", diz.
"Os sindicatos têm que descobrir condições de sobrevivência com recursos exclusivos dos trabalhadores associados", diz o ministro Almir Pazzianotto, do TST (Tribunal Superior do Trabalho).
O tribunal aprovou norma que impossibilita impor contribuição a título de taxa assistencial ou contribuição confederativa a não-associado. Essa jurisprudência foi confirmada pelo Supremo Tribunal Federal. "Os acordos coletivos não poderão mais conter cláusulas fixando descontos em salários de não-associados", diz Pazzianotto.
Operação de socorro
Diante da rotatividade e das demissões com a privatização dos serviços de ônibus do município, o sindicato dos motoristas de São Paulo está em dificuldades.
O sindicato fechou o acordo coletivo em maio. Para tentar se reequilibrar, está cobrando agora a parcela da contribuição (5% sobre o salário). José Alves do Couto Filho, presidente do sindicato, confirma o desconto.
Ele diz que houve um acordo para que as empresas não se manifestassem contra o desconto da taxa assistencial. "O setor patronal não pode se envolver", diz.
Panos quentes
"Muitas empresas preferem ficar quietas, não estimulando os não-associados contra o desconto", diz Rossi. Mas esta não é a regra geral. Ricardo Patah, do sindicato dos comerciários, diz que algumas empresas têm cartas padronizadas, para os funcionários desautorizarem a contribuição.
"Houve muitos abusos que depõem contra os sindicatos, pois há dirigentes que estabelecem uma taxa confederativa alta", diz Enilson Simões, o "Alemão", presidente do Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento em São Paulo. Simões diz que, há mais de cinco anos, proibiu as empresas de descontarem essa taxa.

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