São Paulo, domingo, 27 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Sindicalistas agem como maus patrões"

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os sindicatos patronais são muito melhores patrões do que os sindicatos de trabalhadores. Os sindicalistas não concedem aos funcionários dos sindicatos o que eles brigam tanto para conseguir para suas categorias."
Quem faz essas afirmações é um sindicalista que ocupa um posto muito peculiar: José Milton Garrido de Paula, 40, funcionário do sindicato dos advogados de São Paulo, desde 1991 presidente do sindicato que reúne os empregados de sindicatos -uma espécie de sindicato dos sindicatos.
O Sindicato dos Empregados em Entidades Sindicais foi criado em 89, depois que a nova Constituição terminou com a proibição para que funcionários de sindicatos formassem seu próprio sindicato.
Após a mudança na lei, sindicatos reunindo pessoas que trabalham para entidades sindicais foram formados em diversos Estados; o que está mais estruturado é o de São Paulo, que tem cerca de 3.000 associados. Calcula-se que os sindicatos empregam hoje cerca de 10 mil pessoas no Estado.
Polêmica
Muitos sindicatos de trabalhadores não reconhecem o direito dos seus funcionários de se filiar a seu próprio sindicato. Não respeitam também a garantia de emprego para os dirigentes do sindicato dos funcionários sindicais.
Wanderlei Lopes Luiz Antonio, 28, é um exemplo disso. Empregado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, foi demitido duas vezes e reintegrado no seu posto, as duas vezes por decisão da Justiça.
"O sindicato dos metalúrgicos não gosta que eu seja ativista", diz.
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente do sindicato dos metalúrgicos, confirma que não reconhece o sindicato dos funcionários de sindicatos.
"Nossos funcionários ou são médicos, dentistas, advogados ou são metalúrgicos. Esse sindicato-fantasma está a serviço dos patrões, querem atrapalhar nosso trabalho", diz ele.
Os diretores do sindicato dos empregados em sindicatos dizem que sua existência só está sendo reconhecida, na maioria dos casos, depois que conseguem vitórias em ações judiciais.
A decisão de reconhecer ou não o "sindicato dos sindicatos" independe da filiação do sindicato de trabalhadores à CUT ou à Força Sindical.
Piso salarial
"No primeiro ano, quando fomos fazer o dissídio coletivo, só fechamos acordo com oito sindicatos. No segundo ano, fizemos acordo com mais de cem sindicatos. A cada ano, aumenta o número de sindicatos que topam negociar conosco depois que conseguimos ganhar ações na Justiça", afirma Milton de Paula.
A maior conquista do sindicato dos trabalhadores em sindicatos, na opinião dos seus dirigentes, foi a fixação de um piso salarial relativamente alto, de R$ 330,95, faltando ainda o reajuste de 96, que deve ser julgado dia 13 de novembro.
Esse piso é bem mais alto do que o de outras categorias. O piso conseguido pelo sindicato que reúne os faxineiros é, por exemplo, de R$ 150,00.
Para esses sindicatos, a estabilidade monetária tornou mais remota a possibilidade de um reajuste considerável do piso salarial. Com isso, ficou mais difícil para esses sindicatos aceitarem pagar R$ 330,95 de piso para seus funcionários, diz Romildo dos Santos Araujo, 40, vice-presidente do "sindicato dos sindicatos".

Texto Anterior: Receita chega a R$ 15 milhões
Próximo Texto: Real eleva arrecadação da CUT
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.