São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 1996
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Brasília coloca o cinema no centro de seus sonhos

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Brasília tomou todas as providências: reativou o hotel Nacional (reformado) como sede; programou a vinda de um peso-pesado da produção independente (Anatole Dauman); organizou oficinas e um encontro nacional de pesquisadores; aumentou o número de filmes em competição; preparou paralelas com filmes restaurados.
A ambição não é pequena. De hoje, quando abre sua 29ª edição, a 4 de novembro, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tenta voltar a ser o que foi até os anos 80: não só uma mostra de filmes inéditos, como o lugar em que a feitura e distribuição de filmes, assim como a reflexão sobre o cinema, passem por um balanço anual.
É claro, a mostra competitiva ocupa o centro das atenções. O número de longas passou de seis para oito, o que reflete o crescimento da produção. A direção pretende que a qualidade não decepcione.
Entram na disputa, entre outros, "Como Nascem os Anjos", de Murilo Salles (melhor direção em Gramado), "Olhos de Vampa", de Walter Rogério, e "Um Céu de Estrelas", de Tata Amaral.
Mas o tom do festival pode vir não de um filme, e sim da conferência "A Resistência do Cinema Independente". O conferencista, Antoine Dauman, é de se respeitar: já foi produtor de cineastas como Jean-Luc Godard e Alain Resnais.
Dauman é o nome que resume a intenção de Sílvio Tendler, cineasta e secretário da Cultura e Esporte do Distrito Federal: "Nossa concepção é diferente da de Gramado, por exemplo. Lá, o festival é uma grande vitrine para o turismo. Aqui, nossa preocupação é com o audiovisual como indústria de ponta do próximo milênio".
Essa concepção tem duas ramificações. Por um lado, Tendler pretende que Brasília deixe de ser uma referência meramente administrativa, mas uma Capital Federal de fato e de direito, onde se conjuguem reflexão e ação cultural.
Não é por acaso, portanto, que o festival deste ano traz duas mostras paralelas de filmes restaurados (em 35mm e em 16mm) e programa a vinda de 287 convidados.
Por outro lado, Tendler pretende desenvolver um programa local de formação de quadros, organizando sete oficinas durante o festival.
Nos planos de Tendler, Brasília se tornaria o local onde o cinema (ou o audiovisual, como prefere) se pensa como indústria.
Para que isso não dure apenas oito dias, boa parte das energias do festival é canalizada para as oficinas. Elas tendem a funcionar como âncora de um festival que, por se realizar numa grande cidade, tende à dispersão.
Mas querem ser, ao mesmo tempo, o embrião de um projeto de formação de quadros que capacitem o Distrito Federal a se tornar, em alguns anos, um pólo de produção à altura de Rio e São Paulo.
Não faltam planos. A partir de hoje, a organização do festival, o público, os filmes e mesmo Brasília começam a mostrar se estão à altura desses sonhos.

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