São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 1996
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Os bônus saíram mais caro

CELSO PINTO

O Brasil acabou vendendo seus bônus, ontem, a um preço mais caro do que imaginava. Não foi um fracasso total, mas ficou aquém do sucesso esperado pelo Banco Central.
Os US$ 750 milhões em "global bonds" emitidos pelo Brasil ontem estavam planejados, inicialmente, para serem papéis de dez anos de prazo, a exemplo dos bônus recém colocados pela Petrobrás. Acabaram sendo bônus de cinco anos e pagaram um prêmio superior ao pago pela própria Petrobrás.
Os prêmios em bônus internacionais são medidos em pontos básicos de porcentagem pagos acima dos títulos do mesmo mercado, com menor risco e prazo semelhante. No caso dos bônus globais brasileiros, a referência são os bônus do Tesouro americano.
Até a semana passada, as duas instituições financeiras que lideraram a operação, o JP Morgan e o SBC Warburg, imaginavam conseguir colocar os papéis brasileiros com um prêmio de 235 pontos básicos de porcentagem acima dos títulos do Tesouro americano.
Na sexta-feira, um operador do JP Morgan chegou a oferecer a um investidor brasileiro, por telefone, lotes da emissão com um prêmio de 235 pontos. O investidor disse que não. Passaram-se algumas horas e o operador voltou a insistir, desta vez oferecendo um prêmio de 265 pontos. O investidor continuou dizendo não.
Os bônus acabaram sendo colocados, ontem, com um prêmio de 265 pontos. A Petrobrás acabou de emitir US$ 250 milhões em bônus com parcelas de cinco anos e de dez anos. A fatia de cinco anos foi vendida com um prêmio de 250 pontos, abaixo, portanto, do que seu acionista controlador, a República, teve que pagar.
Além disso, o mercado identificou nos movimentos de compra que aconteceram pouco depois da emissão, a presença dos dois bancos que lideraram o negócio. Sinal que eles, como lideres, provavelmente tiveram que ficar com mais papéis do Brasil na carteira do que gostariam.
O que deu errado?
Em primeiro lugar, é bom lembrar que o fracasso é relativo: houve excesso de otimismo que se revelou injustificado. A Argentina colocou papéis de cinco anos, neste ano, pagando um prêmio de 320 pontos e o México um prêmio de 360 pontos, bem acima do pago pelo Brasil.
O prêmio pago pelos bônus brasileiros, de outro lado, é muito inferior ao que está sendo pago por títulos da dívida brasileira, os chamados "Bradies". O C-Bond, por exemplo, com prazo médio de 7 anos, está pagando um prêmio de 620 pontos. O mercado, portanto, está disposto a receber menos por um papel brasileiro novo, como tem argumentado o Banco Central em favor de seu programa de recompra dos Bradies.
O "timing" do lançamento, contudo, acabou sendo infeliz. Os Bradies dos países em desenvolvimento, em geral, têm caído nas últimas semanas. O C-Bond, por exemplo, estava sendo negociado com um deságio de 25 centavos por dólar, no dia 10, e ontem estava com deságio de 31,5 centavos.
O México sofreu uma desvalorização de 7% em sua moeda semana passada, a Argentina complicou-se com as acusações de Domingo Cavallo contra o presidente Menem e a Rússia e seu presidente ficaram mais incertos. Nada disso ajudou os papéis brasileiros.
Outros operadores experientes deste mercado lembram que outubro, tradicionalmente, é um mês ruim para lançamentos. Os bancos começam a se preparar para os balanços de fim de ano, acabam vendendo papéis de pior reputação, mas grande remuneração, como os Bradies, para engordar resultados e ficam menos dispostos a absorver novos títulos.
Além destes fatores externos, influiu, também, a mudança recente no ânimo em relação ao Brasil. O ponto maior de inflexão foi o anúncio do resultado das exportações na terceira semana de outubro, muito abaixo do esperado e que, se mantida, poderá levar a um déficit superior a US$ 1 bilhão no mês.
Subitamente, o mercado relembrou os pontos fracos do Plano Real e aumentou o nervosismo sobre o futuro. Os "global bonds" pagaram o preço. O calote de US$ 13 milhões em papéis da Constran, semana passada, certamente não ajudou os "global bonds", mas também não foram, segundo o mercado, um fator decisivo.

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