São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 1996
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Economista da FGV faz paralelo entre Brasil e crise mexicana

Faria ressalva que índices brasileiros são melhores

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O economista Lauro Vieira de Faria, editor da revista "Conjuntura Econômica", da FGV (Fundação Getúlio Vargas), acredita que a economia brasileira apresenta características parecidas com a mexicana no período que antecedeu a crise de dezembro de 1994.
"A dinâmica é parecida", disse Faria à Folha, ressalvando que os números brasileiros de hoje são bem melhores que os mexicanos.
Ele ressalvou também que a economia do Brasil é mais dinâmica que a do México e que o governo brasileiro vem buscando soluções para os problemas.
Faria disse que entre as semelhanças estão baixo crescimento econômico, relacionado com a sobrevalorização da moeda; crescente déficit comercial; e excessiva dependência da poupança externa.
Para ele, se o governo não conseguir conter o crescimento do déficit comercial com as medidas que vem tomando (estímulo às exportações, sem alterar o câmbio), terá que frear a economia em meados de 97 para conter as importações.
"No começo deste ano, o governo previa um superávit de US$ 3 bilhões na balança comercial. Agora, podemos chegar a um déficit de US$ 3 bilhões", afirmou.
Como, na visão de Faria, o governo não está disposto a mexer no câmbio, desvalorizando o real, para melhorar as contas externas, a única alternativa seria elevar os juros, freando a economia.
Isso, além de recessão, traria também o risco de nova crise bancária, causada por um novo surto de inadimplência dos tomadores de empréstimos. Em 95, segundo o Banco do Brasil, a inadimplência chegou a 8% dos empréstimos.
Crescimento baixo
O editorial da "Conjuntura Econômica" que deve circular nos próximos dias alerta para a necessidade de o Brasil crescer a taxas maiores que entre 4% e 5% ao ano.
Os técnicos da FGV prevêem, na mesma edição da revista, que neste ano o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) não vai passar de 2,5%. O PIB é a soma das riquezas produzidas pelo país.
O texto que antecede as previsões recebeu o título de "Muito aquém de Kandir", ironizando as previsões de Antonio Kandir, ministro do Planejamento, de que o país poderá crescer até 9% ao ano, se a possibilidade de reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso for aprovada pelo Congresso.
"A reeleição, colocada assim, não quer dizer nada", disse Faria. O importante, segundo ele, é que o governo diga quais as políticas que serão implementadas para alcançar esse crescimento.
O número da FGV para o PIB de 96 é próximo aos 2,6% previstos pelo IBGE e inferior aos 3% previstos pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento.
Lauro de Faria disse que a poupança interna brasileira está próxima a 15%. Esse número, segundo ele, está muito aquém do necessário para que o país cresça 7% ao ano, como precisa.

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