São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996
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Inquérito acusa 40 policiais de corrupção

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 40 policiais civis serão acusados de corrupção, improbidade administrativa e de formação de quadrilha como resultado do inquérito que apura a ligação do jogo do bicho de São Paulo com o crime organizado.
Em dez dias, será concluído o maior inquérito da história policial do Estado. Com 205 mil páginas e 542 volumes, a investigação concluiu que o jogo do bicho paulista é uma organização criminosa.
Ao todo, 250 testemunhas foram ouvidas em dois anos de apurações. Além dos 51 policiais civis investigados, 119 outras pessoas tiveram os sigilos bancário e fiscal quebrados -a maioria é de familiares de policiais, bicheiros e parentes dos chefes do jogo.
Os laudos contábeis constataram, em relação aos policiais, que eles movimentaram em suas contas bancárias de 5% a 1.779% acima dos rendimentos declarados no Imposto de Renda.
Os peritos também analisaram a movimentação financeira feita pelos banqueiros do jogo do bicho. Eles concluíram que, em 11 contas bancárias, Ivo Noal, 61, movimentou, entre 1989 e 1992, de 2.523% a 8.675% acima do que foi declarado ao Imposto de Renda.
"Os cálculos estão errados. Sempre estive em dia com meus deveres de cidadão pagador de impostos. Estão querendo se promover à minha custa, à custa de um simples empresário", disse Noal.
O relatório final feito pelo delegado Hélio Panica também mostrará como a Grande São Paulo é dividida entre os bicheiros. O documento aponta a existência de um "estatuto" feito por uma "associação de bicheiros".
O delegado descartará a hipótese de o jogo do bicho estar ligado, organizadamente, ao tráfico de drogas. Após o relatório, o inquérito será enviado ao promotor Gabriel Inellas, que deverá denunciar bicheiros e policiais.
Também serão enviadas cópias do inquérito à promotoria de Justiça da Cidadania, que irá apurar a improbidade administrativa dos funcionários públicos. A Procuradoria da República deverá usar o inquérito para denunciar os crimes fiscais dos acusados.
Receita Federal
Desde julho passado, cerca de 25 auditores da Receita Federal foram à corregedoria pegar cópias da investigação financeira e da variação patrimonial dos investigados, entre eles, Ivo Noal. O objetivo é levantar quanto teria sido sonegado.
As informações sobre os investigados foram obtidas na Telesp, receitas Estadual e Federal, bancos, Departamento Estadual de Trânsito), cartórios de registro de imóveis, Junta Comercial e departamentos policiais. "Temos provas fortes", disse o delegado-geral em exercício, Roberto Maurício Genofre.

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