São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996
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Lojas de produtos usados vivem crise

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crediário de longo prazo e a redução nos preços de roupas, móveis e eletroeletrônicos estão acabando com o comércio de produtos usados.
Desde o início do Plano Real até agora, as vendas de artigos de segunda mão já caíram 60%, em média, segundo levantamento feito pela Folha com oito lojas espalhadas por São Paulo.
Competir com prazos de financiamento em até 36 meses -nesse caso, para a aquisição de eletroeletrônicos novos-, dizem os lojistas, é praticamente impossível, apesar dos juros altos (em torno de 5,5% ao mês).
"Meus ex-clientes estão entusiasmados com o crediário de longo prazo e a prestação baixa", diz Benedito Berna Filho, proprietário da Móveis Casa Grande.
A Casa Grande tem 13 anos no comércio de móveis e eletroeletrônicos usados e está faturando hoje 60% menos do que há dois anos. O prazo máximo de pagamento que consegue conceder ao cliente é de três meses.
Na Móveis Thonet, que tem 15 anos, Ademir Pereira dos Santos, gerente, tem saudades da época em que vendia de R$ 20 mil a R$ 25 mil por mês. Hoje, esse número caiu para R$ 6 mil mensais.
Assim como na Casa Grande, a Thonet oferece ao cliente prazo máximo de pagamento de três meses. "Acontece que com uma prestação de R$ 15,00 o consumidor compra, por exemplo, um fogão novo", diz Pereira dos Santos.
Fogão novo
Um fogão popular usado pode ser adquirido por R$ 90 à vista ou em três prestações de R$ 30.
Ao comprar um novo, por R$ 198, em média, o consumidor vai pagar -no plano de 24 meses- 24 parcelas de R$ 15.
"É isso o que o cliente quer: prazo longo", diz Osni de Oliveira, proprietário da Antiguidades Bonsucesso.
Ele trabalha há 33 anos com o comércio de artigos usados. Suas três lojas faturavam há dois anos cerca de R$ 50 mil por mês. Hoje, vendem o equivalente a R$ 20 mil mensais.
Oliveira vai esperar a virada do ano e, dependendo das vendas, pode fechar as lojas e só reabri-las quando o consumo voltar.
As três lojas da Bonsucesso tiveram 28 empregados há 12 anos. Esse número foi reduzido para 8, e, depois do Plano Real, para 4. "Se as vendas não melhorarem vou trabalhar sozinho."
A Brechó Chic, que comercializa roupas usadas há cerca de 60 anos, informa que a redução nos preços das peças e as importações contribuíram para a queda nas vendas.
Julia Petukaiskas, proprietária, diz que essa é a pior crise já vivida por sua loja, que registra queda de 60% nos últimos dois anos.
Para ela, as roupas chinesas que chegam ao Brasil custam tão pouco que concorrem diretamente com os preços dos artigos usados.
Na Brechó Chic, camisetas custam de R$ 2 a R$ 5. A loja só vende à vista e não aceita cartão de crédito. "É tudo tão barato que só vendo à vista."

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