São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996
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Governo acalma mercado sobre o déficit

LÚCIA MARTINS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo divulgou ontem dados de exportação para tentar acalmar o mercado. As exportações brasileiras totalizaram US$ 1,123 bilhão na quarta semana de outubro, uma média diária de US$ 224,6 milhões.
Esse resultado é o melhor desde o início do ano, segundo informou a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. As Bolsas de Valores, que vinham caindo nos últimos dias, reagiram bem e fecharam em alta (ver pág. 2-12).
Na semana passada, por exemplo, a média diária de embarques tinha ficado em US$ 168,3 milhões.
"Não vejo nenhuma razão para o susto que está sendo divulgado nesses últimos meses. Os resultados das exportações desta semana já mostram que a média semanal foi maior que as semanas anteriores", disse o ministro Francisco Dornelles.
Em Londres, Gustavo Franco, diretor da área externa do Banco Central, se irritou ao ser perguntado sobre o repentino aumento das exportações.
Ele descartou qualquer hipótese de manipulação dos dados. "Isso é ridículo", afirmou Franco.
Franco reconheceu que os bônus globais brasileiros foram lançados em mau momento. Para ele, os títulos não foram influenciados pelo déficit da balança comercial.
O volume de embarques, segundo Dornelles, elevou para US$ 3,570 bilhões o total de exportações acumuladas nos 18 primeiros dias de outubro. Foi reforçado em grande parte pelos embarques de minérios ao exterior.
Caso as exportações mantenham o mesmo ritmo, o governo espera fechar o mês de outubro com um total de vendas externas de US$ 4,362 bilhões -resultado 6,0% maior que o de setembro.
Mesmo com a previsão de resultado mais positivo, outubro deve fechar com déficit na balança comercial superior ao de setembro, que foi de US$ 655 milhões.
Cálculos de consultorias privadas encomendados pela Fazenda indicam que, de outubro a dezembro, o déficit acumulado será de cerca de US$ 1,5 bilhão.
A equipe econômica espera que o déficit no final do ano fique em US$ 3 bilhões. No mercado, porém, algumas avaliações indicam que o resultado negativo pode chegar a US$ 4 bilhões.
Segundo a Folha apurou, o governo não pretende alterar a sua política cambial para estimular as exportações neste ano.
A intenção é aguardar o comportamento da balança comercial no próximo ano. Os assessores do presidente Fernando Henrique Cardoso acreditam que as medidas adotadas -como a desoneração das exportações- começarão a surtir no primeiro semestre de 97.
Dornelles se disse "otimista" em relação ao desempenho comercial do Brasil. "Nunca o Brasil teve uma situação externa tão tranquila e cômoda."
O ministro afirmou que nunca houve intranquilidade do governo em relação à balança comercial.
"A intranquilidade surgiu de pessoas que tinham interesses em boatos, mas a situação é totalmente positiva. Os investimentos diretos deste ano vão alcançar US$ 8 bilhões, superior ao ano anterior", disse ele.
Crédito
Dornelles disse que o governo espera criar em 15 dias o seguro de crédito à exportação.
Dornelles afirmou também que vai divulgar a proposta de lei única de comércio exterior, para receber sugestões dos setores interessados. A lei deve prever benefícios e incentivos aos exportadores. A intenção do governo é unificar as legislações dispersas sobre comércio exterior.
"O seguro de crédito à exportação é o elo que faltava para o incremento das exportações", afirmou.
A criação do seguro de crédito faz parte da estratégia do governo de reverter os saldos negativos na balança comercial por meio do estímulo às exportações.

Colaborou Lúcia Martins, de Londres

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