São Paulo, quarta-feira, 30 de outubro de 1996
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Escrava vira 'produto exportação'

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando a trama se desenrola a partir das desgraças de uma escrava, aumentam as chances de a novela virar produto de exportação. "Escrava Isaura", da Rede Globo, é o folhetim brasileiro de maior sucesso no exterior e "Xica da Silva", atualmente no ar pela Rede Manchete, já foi vendida aos portugueses.
Considerada um fenômeno da teledramaturgia mundial, "Escrava Isaura" está comemorando 20 anos. Essa adaptação do romance de Bernardo Guimarães foi exibida em mais de 80 países e rendeu à atriz Lucélia Santos popularidade de superestrela, principalmente nos países asiáticos.
"A escravidão é sempre um tema atual. Acho que todos os povos passaram por uma situação semelhante, em que há opressores e oprimidos. Acho que esse lado universal ajudou a novela a ser bem recebida em lugares tão diferentes como a Ásia, a Croácia e vários países da América Latina", diz Lucélia, 38.
Segundo Jorge Adib, 61, diretor-geral da Divisão Internacional da Rede Globo, a trajetória de Isaura -a jovem branca filha de uma escrava e de um português- representa um marco na TV. "É a novela brasileira de maior prestígio. Foi a primeira a conseguir entrar no bloco socialista", lembra.
A própria emissora tentou reeditar o sucesso de "Escrava Isaura" explorando o mesmo tema na novela "Sinhá-Moça", escrita por Benedito Ruy Barbosa. Inspirada no livro de Maria Dezonne Pacheco Fernandes, essa produção de 1986 foi concebida em formato "para exportação".
A Globo até escalou Lucélia Santos e Rubens de Falco, o vilão da trama anterior, para os papéis principais -dessa vez, a atriz encarnou a filha de um coronel escravocrata que simpatizava com a causa dos abolicionistas.
Venda antecipada
"Xica da Silva" é o exemplo mais recente de trama que cruza fronteiras abordando a escravidão. A história da negra Xica (vivida por Taís Araújo) foi vendida para a emissora RTP de Portugal pouco depois da estréia no Brasil.
"Normalmente as transações são efetuadas quando a emissora termina de exibir a novela por aqui. Mas alguns produtos despertam o interesse muito antes", afirma Maria Tereza Zanetti, 35, gerente de vendas internacionais da Rede Manchete.
Soap business
A exportação de novelas rende anualmente à Rede Globo cerca de US$ 30 milhões. Isso representa aproximadamente 15% do que a emissora investe na produção de tramas.
O mercado português é o maior consumidor das produções brasileiras. Desde "Gabriela", exibida nos anos 70, elas ocupam o horário nobre na TV do país. De olho nesse cliente em potencial, emissoras como a Globo e a Manchete buscam atores portugueses para participações especiais.
Até mesmo a novela "Perdidos de Amor", recém-estreada na Rede Bandeirantes, incluiu o ator português Diogo Infante em seu elenco.

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