São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
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Escreveu, não leu...

GUSTAVO BERG IOSCHPE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Pense na única coisa que você obrigatoriamente vai ter de fazer para passar no vestibular. Promessas para todos os santos? Subornar o fiscal? Sequestro de massa encefálica? Não, que nada. O negócio é muito mais simples: ler.
É óbvio que você vai ter de ler e decorar milhões de livros didáticos, mas não é a esse tipo de leitura que me refiro. Também não é leitura de gibi, revista pornô ou bula de remédio, para quem já estava ficando entusiasmado.
O lance é a boa e velha literatura. Ou, pelo menos, a leitura de algo útil como jornal e revistas, se você já tiver entrado na fase dos que não têm tempo nem para chutar o gato da vizinha.
Ler é o canal por uma série de razões. Pelo lado mais pragmático, serve para você não saber o que significa "pragmático", ou seja, ter um vocabulário rico e correto e não escrever asneiras tipo "cabe ao jovem a metamorfose desta época cheia de hiras" (?!?), como um candidato da São Judas.
Ainda pelo lado objetivo, uma boa bagagem literária salva qualquer um nas provas de português, literatura e redação. Em todas as outras provas, mesmo nas de exatas, ter uma certa intimidade com a língua facilita -e muito- a vida.
Há questões em que os sacanas da banca embolam tudo ("uma laranja cortada axialmente e vista de uma perspectiva angular, dada uma rotação elíptica em plano transversal...") só para ver se você vai conseguir sacar qual é a incógnita.
Não precisa beijar o caolho do Camões para ter essa intimidade com a escrita. Basta ler. De preferência livros interessantes que estimulem você e que, ao mesmo tempo, sejam úteis para o vestiba.
E isso não falta: desde os clássicos da literatura brasileira (não, seu livro sobre a influência das fases da Lua sobre a queda de cabelo não é um clássico) até as recentes biografias de personagens interessantes que fizeram a história do nosso país, tem de ter alguma coisa que o interesse.
Em vez de ficar prostrado na frente da TV, pegue um livro que vale muito mais a pena. Pode ser que você não vire um intelectual, mas pelo menos suas respostas não vão ser tão emboladas quanto as de político corrupto explicando seus atos ("Bem, pois é, sim, claro que não, ãã, a culpa é do vice...")...
Disse que ia, fez que foi e acabou fondo. Um "pquitinhozinho" de "curtura" não faz mal a ninguém.

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