São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'A realidade é mais dura', diz viúva

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

"A realidade é mais dura do que o filme de José Joffily", disse à Folha Maria Aparecida Venâncio da Silva, viúva de Pixote, ao ser indagada sobre sua sensação depois de ter visto pela segunda vez nas telas a história de Fernando Ramos da Silva.
Ex-candidata a vereadora e casada atualmente com um caminhoneiro, ela é sócia da produção de "Quem Matou Pixote?", com direito a uma porcentagem dos lucros do filme.
Apesar de considerar a equipe "fantástica", afirmou que o filme não chega a recriar completamente a história verídica de Pixote.
"Ele mistura ficção e realidade, deixando o resultado um pouco adoçado. Mas não tenho do que reclamar, pois tudo foi tratado com muito carinho pelo Joffily."
Em 1988, Maria Aparecida publicou o livro "Pixote Nunca Mais" (Global Editora), sobre sua relação com Silva, que conheceu aos 12 anos. Quando leu a obra, Joffily teve a idéia de rodar o filme.
"Escrevi o livro, mas sentia que faltava algo mais", explica a viúva.
Medo
No início das filmagens, Maria Aparecida ficou com medo de que essa tentativa de resgatar a memória de Pixote contribuísse ainda mais para "sujar" a imagem do marido morto.
Ficou tão apreensiva que foi até o Rio de Janeiro para assistir às gravações: "Eles estavam falando sobre minha vida, tinha de verificar o que faziam. Quando vi a Luciana Rigueira (a Cida no filme) e os outros atores, fiquei tranquila e voltei para São Paulo".
Maria Aparecida foi consultada durante a elaboração do roteiro, mas não o leu e só assistiu ao filme pronto, em uma pré-estréia no Rio. "Foi um choque. Era como se um sonho estivesse passando na tela, com pessoas e nomes diferentes. Até hoje é difícil de acreditar."
Depois que o filme foi finalizado, conta que entrou em depressão por causa de todas as lembranças que ele trazia de volta. "Olho para o Cassiano Carneiro, que faz o papel de Pixote, e fico imaginando que poderia ser o Fernando."
Segundo ela, a mãe de Pixote, Josefa Carvalho da Silva, chegou a ficar doente com o retorno das discussões sobre o filho.
"É como se estivéssemos sangrando de novo."
Babenco
Sobre as comparações entre a película de Joffily e "Pixote, a Lei do Mais Fraco", de Hector Babenco, ela prefere resumir: "Eles não têm nada a ver um com o outro. A obra do Babenco não se baseia na vida do Fernando, apenas relata o dia-a-dia de garotos pobres. Já o filme de Joffily conta a história de uma pessoa, que tem por trás um nome e uma família".

Texto Anterior: Matou os 'Pixotes' e foi ao cinema
Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.