São Paulo, quinta-feira, 31 de outubro de 1996
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INQUÉRITOS E INOCENTES

Crimes que causam grande comoção junto à opinião pública costumam ter investigações policiais mais aceleradas do que de costume. Mas muitas vezes a conveniência de chegar a uma solução rápida pode levar a polícia ao uso de métodos inaceitáveis que levam a apontar falsos culpados apenas para atender a um clamor da sociedade por justiça.
As investigações sobre a explosão de uma bomba em Atlanta (EUA) durante a Olimpíada levaram à identificação do segurança Richard Jewell como suspeito. Dias atrás, Jewell foi inocentado e prometeu processar o governo e jornalistas por difamação. Rumo semelhante tiveram as buscas ao autor do atentado a bomba no Itamaraty, em 95. Jorge Mirândola foi preso pela Polícia Federal, acusado, mas solto dias depois. Foi inocentado, e as investigações levaram ao verdadeiro autor do atentado.
Agora, em São Paulo, o Tribunal de Justiça analisa a conduta dos policiais envolvidos no inquérito sobre o assalto ao bar Bodega. Sete suspeitos foram soltos depois que a promotoria decidiu não denunciá-los por falta de provas. Os suspeitos acusaram a polícia de tortura para que eles confessassem a autoria do crime.
É preciso esclarecer se houve abusos no trabalho da polícia e se pessoas inocentes foram mantidas encarceradas sem motivo. As denúncias de tortura têm que ser apuradas com rigor, e, se comprovadas, os responsáveis devem ser punidos exemplarmente. Trata-se de uma prática deplorável que, infelizmente, ainda está em uso no país.
Causa espanto ainda que, em meio às denúncias, o delegado acusado de ter liderado as supostas torturas contra os suspeitos seja homenageado por parte da comunidade do Itaim Bibi, antes que haja um pronunciamento da Justiça. Caso isentado de culpa pelas autoridades judiciais, nada mais justo que a homenagem lhe fosse prestada. Mas, ainda com o caso sub judice, ela é no mínimo precipitada e revela uma certa tolerância com um abuso ainda frequentemente cometido por autoridades policiais contra inocentes.

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