São Paulo, sexta-feira, 1 de novembro de 1996
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Rebelião na Detenção acaba após 28 h

RICARDO FELTRIN
ENVIADO ESPECIAL A ARARAQUARA (SP)

Depois de 28 horas, terminou ontem à tarde a rebelião de presos da Casa de Detenção em São Paulo, que deixou cinco mortos -quatro presos e um agente penitenciário.
O desfecho do motim aconteceu em Araraquara (282 km a noroeste da capital), cidade para onde foram transferidos 20 presos.
Depois de 12 horas de negociação, na quarta-feira, o secretário da Administração Penitenciária, João Benedicto de Azevedo Marques, liderando uma comissão formada por deputados e padres, retomou ontem pela manhã as conversações com presos amotinados no pavilhão 2.
Às 8h, os presos exigiram a presença de equipes da imprensa. Também exigiram que suas reivindicações fosse transmitidas por uma emissora de TV, ao vivo.
A principal reivindicação era a transferência de 20 presos para a Penitenciária de Araraquara.
As discussões foram das 7h30 às 11h. Nesse horário, a polícia anunciou que um comboio iria levar os 20 presos. Ou seja, a reivindicação foi atendida pela secretaria estadual.
Um caminhão da PM foi preparado para a viagem. No entanto, na saída da Casa de Detenção, um grupo de agentes penitenciários cercou o veículo, impedindo sua passagem.
Os agentes protestavam contra a morte de João de Deus Menezes, que trabalhava como agente penitenciário havia 28 anos. Ele foi morto anteontem, durante a tentativa de fuga de cinco presos num caminhão de lixo.
Menezes tentara impedir a passagem do caminhão, tomado pelos presos. Como ele se recusou a abrir um dos portões, os presos o atropelaram. Ele foi esmagado e morreu na hora.
A tensão durou cerca de dez minutos. Em seguida o caminhão foi liberado. O comboio que seguiu para Araraquara era formado por um caminhão, quatro carros da PM e 28 policiais.
Segundo informações de funcionários da Detenção, os presos deixaram o local com quatro reféns, entre eles o diretor da Detenção, Walter Earvin Hofgen.
Essa informação foi confirmada pelo comandante da operação, capitão Ailton Brandão. Ele afirmou que o diretor do presídio foi solto ainda em São Paulo. Quatro agentes penitenciários seguiram no caminhão com os presos.
Sede
Na cidade de Limeira, os amotinados pediram para beber água. O comboio parou no CPAI (Comando de Policiamento do Interior) 12.
O teto do caminhão foi "regado" por policiais. Os presos reclamavam do calor (fazia 32 graus nesse momento, por volta das 13h30). Nova parada aconteceu em Rio Claro, num posto de gasolina.
Os presos chegaram a Araraquara às 16h35, depois de mais de cinco horas de viagem. Todo o percurso foi acompanhado por um helicóptero da PM.

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