São Paulo, sexta-feira, 1 de novembro de 1996
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'Nerolio' traz versão oficial

MARCELO REZENDE

MARCELO REZENDE; CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor italiano Aurelio Grimaldi, 39, convidado da 20ª Mostra Internacional de Cinema, acredita que o cineasta Pier Paolo Pasolini é um milagre italiano.
Para pôr fim à aura de genialidade santa do diretor, realizou no ano passado "Nerolio", que será mostrado hoje no festival.
"Pasolini era uma figura contraditória, polêmica. Comunista e homossexual que depois da morte se tornou uma unanimidade, uma figura tão grande quanto alguns escritores de meu país, como Alberto Moravia ou Leopardi".
Grimaldi falou à Folha ontem, após a primeira exibição de seu filme, sobre sua visão de Pasolini, a morte do cineasta e sua presença na cultura italiana.
Em 87 minutos, em imagens em branco e preto ("esses tons carregam uma fascinação especial"), Grimaldi monta três contos sobre Pasolini.
São histórias que em certa medida colocam em evidência não a obra, mas seu comportamento sexual.
"Em primeiro lugar me interessa o fato biográfico de que Pasolini todas as noites saía sozinho, sempre sozinho, em busca de rapazes.
"Eu sempre achei que isso era uma coisa muito bela, fascinante. No romance póstumo, incompleto, que se chama 'Petróleo', ele escreve um capítulo belíssimo em que um personagem faz amor com 20 rapazes. Esse é primeiro episódio que trabalho. O segundo é puramente ficcional. A versão da morte é o que existe de oficial para a Justiça."
Mas, para grande parte do público e da crítica da Itália, esse carinho e essa aproximação resultaram em um filme "fascista".
O Pasolini de "Nerolio" é um homem que odeia a humanidade, sempre pronto afirmar que é "um dos maiores gênios da raça".
Para os contemporâneos de Pasolini, os piores -e muitas vezes ficcionais- aspectos de sua personalidade foram ressaltados no filme. Não existe o artista. Sobre a versão apresentada por Marco Tullio Giordana, Grimaldi diz que nunca pretendeu realizar um filme político.
"O filme de Giordana é muito convincente. Me causa muitas dúvidas, mas eu não procuro uma verdade histórica, mas uma possibilidade."
Apesar das reações contrárias, Grimaldi afirma que sempre teve um grande afeto por Pier Paolo Pasolini.

Colaborou Celso Fioravante

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