São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Bill Clinton busca agradar a todos para fugir da alta reprovação pública

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

William Jefferson Clinton é o presidente de uma administração em que o déficit público federal diminuiu 62%, a inflação ficou sob controle, o desemprego baixou a níveis irrisórios, a economia cresceu, não houve guerras nem grandes confrontos sociais internos.
No entanto, Clinton não é popular. Eleito com 43% dos votos, sua ambição é deixar de ser um "presidente minoritário".
Mesmo que consiga, na quarta-feira ele começa a se tornar história. Aos 50 anos, tem emprego por, no máximo, mais quatro.
Cerca de metade do país simplesmente não confia em Clinton. As pesquisas mostram que a maioria não o considera honesto.
Se as acusações de ilegalidades no financiamento de sua campanha, que começaram a pipocar nas últimas duas semanas, prosperarem, ele não vai contar com a benevolência pública que protegeu Ronald Reagan, um presidente amado, no caso Irã-Contras.
Clinton é diferente de Richard Nixon, outro que nunca foi capaz de conquistar nem o carinho nem o respeito dos eleitores, embora tenha sido presidente duas vezes.
Nixon tinha uma personalidade paranóica, era um homem ressentido, reservado, quase um misantropo. Clinton é uma pessoa afável, que gosta de gente e tem o hábito, raro entre anglo-saxões, de expressar esse sentimento com o corpo, na forma do abraço, da mão sobre o ombro do interlocutor ou da mera proximidade física.
Clinton precisa agradar a todos ou, pelo menos, a quase todos. Por isso, a rejeição pública talvez o faça sofrer mais do que Nixon, que contava com ela. Clinton, ao contrário, anseia pela aprovação geral.
Esse desejo se manifestou cedo na personalidade de William Clythe, seu nome original, o mesmo do pai biológico, que morreu num acidente três meses antes do seu nascimento.
O garoto resolveu adotar o sobrenome do padrasto, Roger Clinton, para ajudar a mãe no relacionamento difícil que tinha com ele.
Adolescente, esteve em Washington como líder de uma entidade estudantil de Arkansas, sul dos EUA, onde nasceu, e se encontrou com John Kennedy, seu ídolo, nos jardins da Casa Branca.
Formou-se em direito pela Universidade Georgetown, em Washington, ganhou a prestigiosa bolsa de estudos Rhodes para fazer pós-graduação em Oxford, no Reino Unido, e fez mestrado na Universidade Yale. Como estudante, liderou passeatas contra a Guerra do Vietnã, visitou a União Soviética e flertou com o socialismo.
Deu aula por dois anos na Universidade de Arkansas e se meteu em política profissional. Coordenou a campanha presidencial de George McGovern em 1972, no Arkansas, (McGovern teve 30% dos votos no Estado, contra 68,9% para Richard Nixon), candidatou-se a deputado em 1974 e perdeu. Em 1976, elegeu-se procurador-geral do Estado e, em 1978, aos 32 anos, o governador mais jovem do país.
No poder, adotou política conservadora, em particular nas questões sociais. Clinton dominou a política estadual nos anos 80 e, aos poucos, começou a aparecer no noticiário nacional. Em 1988, falou pela primeira vez à convenção nacional do Partido Democrata para apresentar o candidato à Presidência, Michael Dukakis.
Em 1992, apesar dos problemas iniciais da campanha (acusações de infidelidade conjugal e de ter obtido por meios escusos dispensa militar da Guerra do Vietnã), ganhou as primárias democratas e, em novembro, graças em parte à candidatura de Ross Perot, chegou à Presidência.
(CELS)

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