São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Republicano Dole concorre à Casa Branca com jeito de ex-presidente

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Robert Joseph Dole, 73, é a primeira pessoa a concorrer à Presidência dos EUA com a aparência de quem é ex-presidente.
O primeiro lance dramático de sua campanha foi o anúncio de sua renúncia ao Senado, onde serviu durante 27 anos. Logo após o emotivo discurso de despedida, ele teve os melhores índices de preferência nas pesquisas de intenção de voto.
Em vez de fazer o papel de candidato, Dole passou a se comportar como o fiel funcionário da grande empresa que espera o relógio de ouro por 35 anos de bons serviços, no caso, a Presidência dos EUA.
Ele nunca mostrou uma agenda para governar o país. O melhor argumento que tem para ganhar votos é o fato de ter sido um bom cidadão, que foi à guerra, saiu ferido, voltou, se recuperou e se dedicou totalmente à vida pública com aparente integridade.
É muito. Mas é pouco. Mesmo sua história não é tão boa quanto parece. Dole adiou seu serviço militar o quanto pôde, como Clinton.
Se a Segunda Guerra tivesse durado alguns meses menos, ele teria escapado dela. Se a Guerra do Vietnã tivesse exigido contingentes similares aos da Segunda Guerra, Clinton talvez tivesse estado nela.
Sua palavra parece melhor que a de Clinton. Mas se Dole tivesse alguma vez estado no Poder Executivo, as diferenças talvez não fossem tão grandes. Clinton prometeu e não cumpriu, como quase todos os políticos eleitos. Dole prometeu e não teve de cumprir, como quase todos os parlamentares.
Dole nasceu em Russell, Kansas, Meio-Oeste do país. Teve uma infância difícil, como a de Clinton. Seus avós dependeram da Previdência Social por seis anos. Os pais tiveram de morar no porão da casa com a família e alugar a parte de cima para sobreviverem.
Ele foi à guerra. Feriu-se gravemente, três semanas antes do Armistício. Perdeu todos os movimentos do braço direito e 75% dos do esquerdo. Devido aos ferimentos, ficou sem um dos rins. Passou três anos em terapia intensiva.
Recuperado, casou com uma de suas enfermeiras e acabou o curso de direito, que a guerra interrompeu, numa universidade menor, a Washburn (Kansas), e partiu para a política. Elegeu-se para a assembléia de Kansas em 1950, procurador-geral do Condado de Russell, em 1952, deputado federal, em 1960, e senador, em 1968.
Em 1976, um ano depois de ter-se casado com Elizabeth Hanford e quatro após seu apressado divórcio de Phyllis, foi candidato à Vice-Presidência na chapa de Gerald Ford e perdeu para Jimmy Carter e Walter Mondale.
Tentou ser o candidato à Presidência pelo Partido Republicano em 1980 e 1988, mas foi derrotado, primeiro por Ronald Reagan e depois por George Bush.
Como líder da maioria no Senado a partir de 1994, tornou-se um virtual primeiro-ministro e ajudou o presidente Clinton, apesar de ser da oposição, a aprovar algumas medidas difíceis, como o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio, a participação dos EUA na Organização Mundial de Comércio e o Orçamento da União.
Apesar de todos os seus problemas médicos, que incluem um câncer na próstata, curado por cirurgia, goza de excelente saúde, segundo detalhados exames clínicos tornados públicos. Em diversos aspectos, inclusive pressão sanguínea, nível de colesterol e relação peso-altura, apresenta melhores resultados do que Clinton, que é 23 anos mais jovem.
Se vencer, Dole terá sido o único ex-líder da maioria do Senado a chegar à Presidência, dos cinco que o tentaram neste século.

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