São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996 |
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IML não fixa prazo para terminar o reconhecimento das vítimas
FABIO SCHIVARTCHE
A informação foi dada pelo chefe do setor de identificação do IML, Daniel Romero Muñoz, 50, durante entrevista coletiva. "Alguns casos são muitos difíceis, pois os corpos estão irreconhecíveis", afirmou. Segundo ele, a maior dificuldade "reside no confronto de informações entre parentes e legistas, já que muitos familiares não fornecem dados completos sobre as vítimas". Muñoz se referiu à ficha de identificação distribuída ontem pelo IML -nela os familiares dão informações como cor de cabelo, barba, bigode, número do calçado, se a vítima usava algum adorno, como relógio, anel, pulseira, vestes, além de sinais particulares. Exames médicos e radiografias de arcadas dentárias foram o material que mais auxiliou o reconhecimento dos corpos. Muñoz não descartou a hipótese de usar exame de DNA (molécula que contém a informação genética da pessoa) para identificar alguns corpos. "Mas esse seria um último recurso, e não quero falar sobre isso agora." Confusão Muitos parentes que passaram o dia no IML reclamaram da demora na liberação dos corpos. Houve até uma reunião com funcionários do IML, na tarde de ontem, para acalmar os ânimos, mas muitos que vieram de outras cidades ou passaram a noite no local estavam inconformados. "Ninguém aguenta mais isso aqui", afirmou a consultora Kátia Gonçalves, 30, parente de Amador Gonçalves Godoy Filho, 42, que estava no vôo 402. Segundo ela, havia poucos legistas trabalhando e muitos corpos ainda não-reconhecidos -50 até o último boletim oficial divulgado ontem. "As famílias não vão parar para descansar enquanto não enterrarem seus parentes", disse. Muñoz informou que havia número suficiente de funcionários -"entre 15 e 20 legistas". Clima Às 14h de ontem, a reportagem da Folha conseguiu furar o bloqueio policial montado em todas as entradas do IML e observou a condição dos parentes das vítimas. Mais de cem pessoas se amontoavam no corredor. Há apenas quatro bancos de madeira no local. Dos dois telefones públicos, apenas um funcionava. Muitas pessoas choravam e, apesar da boa vontade dos funcionários, o clima era de irritação. Reconhecimento Uma família que passava informações sobre o parente morto no guichê do IML foi informada de que não seria possível fazer o reconhecimento pela arcada dentária. A família sugeriu que fosse usada uma máscara feita pela vítima, para o reconhecimento. Ao ser informada de que nem isso adiantaria, a mãe da vítima se voltou ao banco e começou a chorar, amparada pelo filho. Apesar do clima de tensão, a solidariedade deu a tônica entre os parentes das vítimas, que revezavam os telefones celulares. Texto Anterior: LISTA DE MORTOS NO ACIDENTE Próximo Texto: Filha de Lemos vem a enterro Índice |
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