São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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A culpa

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

A vivência e até o Aurélio nos ensina que acidentes são imprevisíveis. Até mesmo quando fazemos uma bobagem, é normal buscar refúgio no surrado "foi um acidente".
A desculpa, porém, não funciona quando nos deparamos com tragédias maiores, como a de anteontem, em Congonhas.
Ou quando um dos maiores pilotos da história se arrebenta contra um muro. Nesses momentos, as falhas existem, são inexoráveis.
Em poucas palavras, existe sempre uma culpa, desde que ela não recaia sobre nós mesmos. Assim é e fim.
Tenho opinião formada sobre acidentes. Herança de meu pai, que um dia foi eleito presidente da comissão de prevenção de acidentes de onde trabalhava.
Era suficiente um copo escorregar das mãos. Pior do que recolher os cacos, era aguentar o discurso que, em resumo, dizia que todo e qualquer acidente poderia ser evitado. Bastava, apenas, prevê-lo.
A réplica, era inevitável, como fazer isso? A tréplica: pense no que está fazendo, projete as consequências de seu ato, os riscos que você está correndo, as precauções que podem ou devem ser tomadas etc.
Pode parecer muito para um copo de requeijão. Mas é pouco quando desses procedimentos depende uma vida ou um centena delas, como em um avião.
Senna morreu por três centímetros. Hoje em dia, barras de suspensão se dobram. Estaria vivo se tivessem pensado nisso antes -e teve quem pensou.
Um aeroporto no meio da cidade, então, só se justifica quando não há espaço. E São Paulo não é exatamente uma minúscula Hong-Kong ou uma Berlim murada.
Assim como no caso do shopping que explodiu em Osasco, ou no do estande que ruiu no Salão do Automóvel, para a tragédia da semana só existe uma única explicação.
A irresponsabilidade dos governos e de quem os elege.

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