São Paulo, sábado, 2 de novembro de 1996
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Wilder é quem ri melhor

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Ninguém é perfeito." Tirado de seu contexto, o diálogo final de "Quanto Mais Quente Melhor" (TNT, 17h) é apenas um inocente lugar-comum. Dentro da sequência de eventos escabrosos narrados pelo filme, é a síntese da amoralidade dos personagens cômicos de Billy Wilder.
O diretor jamais se furtou a abordar temas polêmicos. Em seus dramas falou da falta de caráter, do alcoolismo, da venalidade da imprensa. Mas são problemas que o americano médio nunca deixou de reconhecer e encarar de frente. E percebe-se a culpa pairando vigilante sobre a película.
É nas comédias que o cineasta expõe tudo o que a América puritana do pós-guerra considerava inadmissível. Povoam seus filmes proxenetas, tarados, prostitutas, travestis, maridos infiéis, mulheres solteiras de vida livre. Todos apresentados sem qualquer espécie de crítica ou elogio.
Em "Quanto Mais Quente Melhor" os músicos Tony Curtis e Jack Lemmon se disfarçam de mulher para escapar de mafiosos. Curtis tenta seduzir a cantora Marilyn. Lemmon é o alvo de cantadas de um milionário apaixonado.
Assim como em "O Pecado Mora ao Lado", cada frase proferida e cada olhar, por mais ingênuos que pareçam, estão recobertos de malícia, perversão, fetiche.
O público ri, extasiado, sem se dar conta que vai endossando tudo que excomunga em sua vida fora do cinema. Mais ainda, é certo, gargalha Billy Wilder.

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